Todas as crianças brasileiras separadas dos pais na fronteira sul dos EUA foram reunidas com seus parentes, segundo o Ministério das Relações Exteriores. Mas centenas de famílias de imigrantes ilegais de vários países continuavam na última sexta-feira (27) sem saber o que ocorrerá com elas, um dia após expirar o prazo dado pela Justiça para o governo Trump reunir pais e filhos.
Washington afirma ter reunido mais de 1.800 crianças, mas 711 continuavam em abrigos. A Justiça americana havia determinado que o governo reunisse 2.551 crianças às suas famílias até quinta-feira. O governo republicano, que disse considerar elegíveis para reunião somente 1.600 famílias, informou à Justiça ter entregue 1.442 a seus pais. Outras 378 foram soltas em “circunstâncias apropriadas”.
Organizações de apoio a imigrantes e escritórios de advocacia criticaram o governo por criar um emaranhado legal e burocrático para tornar difícil a reunião das famílias e criar um cenário no qual algumas podem nunca mais ver seus filhos.
Das 711 crianças em abrigos americanos, 431 tiveram os pais deportados. ONGs pressionam o governo a apresentar um plano para completar essas reuniões enviando as crianças de volta para seus países, em sua maioria na América Central.
Algumas organizações, porém, já deram início à investigação para tentar encontrar esses pais, como a União Americana pelas Liberdades Civis (ACLU). “Será um trabalho de detetive muito difícil”, afirmou um dos advogados da ACLU Lee Gelernt. A organização Kids in Need of Defense enviou equipes para Honduras e Guatemala para facilitar o processo.
Reunião
A brasileira Natália Oliveira foi uma das mães que respirou aliviada esta semana. Depois de passar quase dois meses separada da filha Sara, de apenas 5 anos, as duas finalmente puderam se encontrar no domingo. Natália atravessou a fronteira americana, foi presa e levada para um centro familiar no dia 14 de maio. As duas ficaram retidas juntas até o dia 26. “Daí, de uma maneira muito sigilosa, eles vieram e pegaram minha filha”, relatou Natália em entrevista ao Estado, acrescentando que a deixaram sem nenhuma informação. “Disseram que me levariam para um lugar onde minha filha não poderia ficar junto comigo.”
Desde que foram separadas, a menina ficou em um abrigo para menores em Chicago, enquanto Natália foi transferida entre várias prisões pelo Texas. No domingo, finalmente, a brasileira pode abraçar Sara do lado de fora do centro de detenção em Pearsall, no Texas.
Natália só conseguiu falar com a filha por telefone 15 dias depois de as duas terem sido separadas. A filha pedia por favor para que a mãe fosse buscá-la. “Eles não vão levar você embora de novo, né?”, perguntou a menina ao se reencontrar com mãe no domingo. O contato entre elas só passou a ser regular nos últimos 15 dias de detenção. Elas ficaram 58 dias separadas.
Sem saber onde estava a filha, Natália pediu ajuda à família no Brasil que acionou o Consulado no Texas e este localizou a menina em Chicago. Mesmo assim, a reunião só foi possível após um longo trâmite burocrático. “Eu pedia informações e eles me forneciam papéis com orientações que não eram verdadeiras.”
Mãe e filha estão agora com parentes em Boston e Natália vai iniciar seu processo para tentar se regularizar nos EUA. “Ainda estou muito eufórica por ter me reencontrado com minha filha. Vou esperar colocar as coisas no lugar e avaliar quais são agora as minhas opções”, contou, acrescentando que não perdeu a esperança de fazer a vida nos EUA.
As famílias de imigrantes começaram a ser separadas em abril sob a política de tolerância zero de Donald Trump. A medida foi suspensa em junho por ordem do juiz federal Dana Sabraw, de San Diego, que determinou o prazo para as reuniões. Durante a crise, o Brasil chegou a ter 51 crianças separadas dos pais. Em junho, o presidente Michel Temer declarou que poderia enviar um avião da Força Aérea Brasileira (FAB) para trazer as crianças brasileiras de volta.
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