Uma mulher trans chamada Alana faleceu aos 30 anos na última segunda-feira (11) em Aracajú, Sergipe, após não resistir a complicações de uma doença pulmonar. Além da enorme tristeza presente neste acontecimento por si só, outro fato chama a atenção na história.
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Alana foi velada e enterrada vestida como homem, de camisa, gravata e cavanhaque (desenhado a lápis) no rosto.
Uma foto dela no caixão tirada durante o velório, que aconteceu na casa de uma tia, acabou se espalhando nas redes sociais e causou revolta em amigas e autoridades políticas que lutam pelos direitos de pessoas transexuais.
Alana nasceu com órgão sexual masculino, mas se identificava com gênero feminino, diferente daquele que lhe foi atribuído ao nascer. E segundo pessoas próximas, ela desejava se despedir desse mundo como ela era de verdade, uma mulher trans – desejo que não foi respeitado pela família.
O velório de Alana aconteceu na manhã de segunda-feira (11) na casa da tia em Aracaju. À tarde o corpo foi transportado para o cemitério de Japaratuba, município localizado a 54 km da capital sergipana, onde ela foi enterrada.
“O que ela mais me pedia, mesmo antes de falecer ou de chegar a ir ao hospital, era para que eu cuidasse para que ela fosse enterrada como ela é, e não foi o que aconteceu”, disse uma amiga, que também é uma mulher trans, em entrevista ao ‘Metrópoles’.
Revoltada, a vereadora Linda Brasil (PSol) utilizou as redes sociais para falar sobre o fato e declarou que transfobia é crime.
“Estou indignada! Acabei de saber que uma travesti faleceu e que, no velório, a família vestiu nela um paletó, gravata e fizeram barba e cavanhaque a lápis. Isso é um crime! Não é porque é da família que há legitimidade para praticar transfobia deliberadamente”, tuitou Linda.
Veja:
Estou indignada! Acabei de saber que uma travesti faleceu e que, no velório, a família vestiu nela um paletó, gravata e fizeram barba e cavanhaque a lápis. Isso é um crime! Não é porque é da família que há legitimidade para praticar transfobia deliberadamente. #TransfobiaÉCrime
— Linda Brasil 🏳️⚧️ 💉 (@lindabrasilse) October 11, 2021
A vereadora cita o artigo 3º da Constituição do Estado de Sergipe, que garante: “total proteção contra discriminação por motivo de raça, cor, sexo, idade, classe social, orientação sexual, deficiência física, mental ou sensorial, convicção político-ideológica, crença em manifestação religiosa, sendo os infratores passíveis de punição por lei“.
Outra ativista também se indignou ao ficar sabendo que Alana foi enterrada como homem. A transexual Jéssica Taylor dirige a Instituição Transunides, que auxilia a população trans que passa por dificuldades com a doação de cestas básicas.
Jéssica Taylor conhecia Alana e disse que ela foi abandonada pela família, praticamente não tinha o que comer e estava depressiva.
“Alana foi desrespeitada pela família, que colocou até um bigode nela e a enterrou de terno, indo contra a sua identidade de gênero. A família não aceitava a orientação sexual dela”, lamentou a ativista ao jornal ‘O Globo’.
“Eu achei uma violência. Só quem é trans sabe o que já passou até conseguir assumir a identidade. Nem na grande despedida, que é a morte, ela foi respeitada. Alana morreu de tristeza“, completou.
Em outra entrevista, a ativista falou mais sobre como era Alana em vida: “Ela, que sempre foi alegre, extrovertida, parecia apática nas últimas vezes em que nos encontramos. Ela estava em depressão”, acredita ela.
“Não é fácil sobreviver como uma mulher trans num mundo tão repleto de ódio e preconceito. Ela foi abandonada pela família e, no momento da despedida, ainda fizeram isso com ela. Impossível não se indignar“, declarou Jéssica ao ‘UOL’.
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