O médico equatoriano Bolívar Guerrero, de 63 anos, foi preso na tarde desta segunda-feira (18) em Duque de Caxias, na baixada Fluminense (RJ), suspeito de manter uma paciente em cárcere privado após complicações em uma cirurgia.
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De acordo com as investigações, o cirurgião plástico impediu a transferência da paciente do Hospital Santa Branca após complicações em uma abdominoplastia realizada por ele meses atrás.
Trata-se de uma cirurgia plástica realizada com o objetivo de retirar o excesso de gordura e de pele do abdômen. A paciente, Daian Chaves Cavalcanti, de 36 anos, realizou o procedimento com Bolívar Guerrero no início do mês de março.
Em junho, ela se submeter a mais três intervenções. Contudo, algo deu errado no procedimento e, de acordo com uma tia da paciente, ela sofreu complicações depois da cirurgia, inclusive parte da barriga necrosou.
Além de a mulher ter tido sua transferência hospitalar impedida, o hospital particular, do qual o médico equatoriano é sócio, dificultou a entrada dos policiais na unidade.
Na última sexta-feira (15), a polícia entregou um celular para a paciente. Quando agentes ligaram para testar se o aparelho estava funcionando, a mulher atendeu desesperada pedindo para ser retirada do hospital, pois estava com medo de morrer.
“Doutora, pelo amor de Deus, me tira daqui”, disse Daian Chaves Cavalcanti. A delegada entendeu a fala como um pedido de socorro.
“Esse apelo fez com que a gente se preocupasse. Além disso, o que chamou a atenção foi a negativa da unidade em fornecer o prontuário médico. A situação que encontramos a vítima também nos preocupou muito, e por isso deliberamos pela prisão“, conta a delegada Fernanda Fernandes, titular da especializada, ao jornal ‘O Globo’.
“Agora, ela não mais está em cárcere. Mas há indícios de que esteve. Nós pedimos a documentação, eles negaram. Tentamos entrar e eles impediriam. Quando entramos, ela não tinha condições de sair. Por isso, existe indícios de cárcere”, disse a delegada em entrevista.
Após uma denúncia feita pela família da paciente, policias da Delegacia de Atendimento à Mulher de Duque de Caxias (Deam-Caxias) foram até a unidade de saúde para resgatar a mulher – que supostamente estava sendo mantida em cárcere privado – e também levaram o médico preso.
Depois da divulgação da notícia pela imprensa local, outras quatro mulheres já procuraram a Delegacia, e se dizem vítimas de Bolívar Guerrero.
A Justiça determinou que o médico fique preso por 10 dias, mas após o aparecimento de possíveis outras vítimas, a delegada pediu a prorrogação da detenção por mais cinco dias.
“Com o CRM suspenso ele está impedido de operar. Até agora, quatro mulheres já ligaram para a delegacia”, disse a delegada ao ‘Extra’.
A prisão do cirurgião plástico foi realizada no Hospital Santa Branca, unidade particular localizada na Baixada Fluminense. Em nota enviada à imprensa, o hospital diz que Bolívar Guerrero não é sócio da unidade, mas as acusações contra ele são “infundadas”.
Veja um registro do momento da prisão do médico:
Equipe nega acusação de cárcere privado
A equipe que trabalha com o médico fez um post nas redes sociais, também negando que o médico estivesse mantendo a paciente em cárcere privado.
De acordo com essa publicação, Bolívar aceitou liberar a paciente – desde que ela assinasse um termo se responsabilizando por qualquer problema após a liberação.
Confira um trecho da nota:
“O dr. Bolivar foi prestar um depoimento na delegacia. Ele não estava mantendo paciente nenhuma em cárcere privado. Ela estava fazendo curativo e sendo assistida no hospital dele por ele. Porém ela queria ser liberada sem ter terminado o tratamento e ele como médico seria imprudente de liberá-la“.
“Ele disse que poderia liberá-la se ela assinasse a alta à revelia (documento ao qual a paciente se responsabiliza por qualquer coisa que acontecer após sua liberação) e ela não quis assinar. Ele disse que liberaria somente se ela assinasse. Como ela não assinou ele não liberava. O intuito dele é prestar toda assistência à paciente até ela está recuperada”, diz o comunicado.
Leia também a nota enviada pela assessoria de imprensa do hospital:
“Hospital Santa Branca Ltda vem através de sua diretoria em atenção aos comunicados veiculados nas mídias escritas, narradas e digitais manifestar-se publicamente sobre acusações infundadas de CÁRCERE PRIVADO no interior das suas dependências.
Tal crime decorre do verbo encarcerar, que significa deter, ou prender alguém indevidamente e contra sua vontade. No crime de cárcere privado, a vítima quase não tem como se locomover, sua liberdade fica restrita a um pequeno espaço físico, como um quarto ou um banheiro.
Com 43 anos de funcionamento, essa Unidade desconhece tal prática dentro do seu estabelecimento, sempre buscando zelar pela saúde física e mental de seus pacientes, prezando pelo direito de ir e vir dos mesmos, amparado por um equipe multidisciplinar profissional, centros cirúrgicos e CTI com 20 leitos operando 24 horas por dia. Nossas salas cirúrgicas são locadas.
Repudiamos quaisquer práticas criminosas que nos foram indevidamente atribuídas! Tal acusação é absurda!
Além disso, o Dr. Bolivar Guerrero não pertence ao quadro societário desta empresa, como descrito pela imprensa”.
O Conselho Regional de Medicina do Estado do Rio de Janeiro se pronunciou sobre o caso.
“Tendo conhecimento do caso pela imprensa, o Conselho Regional de Medicina do Estado do Rio de Janeiro (Cremerj) abriu sindicância para apurar os fatos. Todo procedimento segue em sigilo de acordo com os ritos do Código de Processo Ético-Profissional.”
Bolívar Guerrero responde a 19 processos na Justiça
Essa não é a primeira vez que o cirurgião plástico Bolívar Guerrero tem problemas com a Justiça. Ele já foi preso antes e responde hoje a, pelo menos, 19 processos judiciais.
Em 2010, a Polícia Civil deflagrou a Operação Beleza Pura, que determinou a prisão de oito médicos – incluindo Bolívar.
Segundo informações do ‘G1’, ele foi acusado de aplicar um medicamento para preenchimento facial sem registro na Anvisa, além de usar outros produtos falsificados.
O médico também foi acusado de imprudência após a morte de uma paciente durante uma lipoescultura, em 2016.
O cirurgião plástico trabalha em Duque de Caxias desde 1996. Popular na internet, ele tem quase 40 mil seguidores em uma rede social.
Bolívar se apresenta como “especialista em cirurgia estética e reparadora“ e costuma postar fotos e vídeos de pacientes que realizaram cirurgias e outros procedimentos com ele.
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