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‘Passarela da adoção’ com crianças e adolescentes causa polêmica em MT

Desfile de jovens para adoção em shopping de Cuiabá foi criticado pela Defensoria Pública e provocou repercussão nas redes sociais

Um desfile de crianças e adolescentes em passarela para adoção dentro de um shopping de Cuiabá na terça-feira (21) causou polêmica. O evento foi promovido pela Comissão de Infância e Juventude (CIJ) da Ordem dos Advogados do Brasil em Mato Grosso e pela Associação Mato-grossense de Pesquisa e Apoio à Adoção (Ampara).

A presidente da CIJ, Tatiane de Barros Ramalho, afirmou, em nota no portal da OAB-MT, que se tratava de “uma noite para os pretendentes a adotar poderem conhecer as crianças e os adolescentes”. Segundo relatou, o evento encerraria ações da Semana da Adoção.

“A população em geral poderá ter mais informações sobre adoção e os menores em si terão um dia diferenciado, em que irão se produzir, fazer cabelo, maquiagem e usar roupa para o desfile”, disse a advogada.

A ação dividiu opiniões, com mais críticas do que apoio. Teobaldo Witter, do Conselho Estadual dos Direitos Humanos de Mato Grosso, disse que o evento “fere a dignidade das crianças e adolescentes”. “A impressão que fica é que elas são mercadorias.” A Defensoria Pública de Mato Grosso apontou que a ação pode causar “sérios sentimentos de frustração”.

Em nota nesta quarta-feira (22), a OAB-MT disse que “nunca foi o objetivo do evento apresentar as crianças e adolescentes a famílias para a concretização da adoção”. Disse ainda que a realização do evento ocorreu com autorização judicial. O Pantanal Shopping, onde o desfile ocorreu, informou que “repudia a objetificação de crianças e adolescentes”.

‘Feiras de escravos’

A Associação Juízes para Democracia (AJD) repudiou, nesta quinta-feira (23), o evento “Adoçã”o na Passarela” e o comparou às “feiras de escravos”. Em nota pública, a entidade dos magistrados sustenta que o episódio “não só violou as garantias (das crianças e adolescentes), como expôs de forma duvidosa, para não dizer desumana, às graves situações de extrema vulnerabilidade emocional e social a que estão expostos”.

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No entendimento dos juízes, “o evento se assemelha mais a uma ‘feira de adoção’, expondo crianças e adolescentes como objetos, como mercadorias de consumo e, ademais, utiliza as crianças e adolescentes como instrumento de propaganda para os ‘parceiros’.”

“Nos termos propostos, a iniciativa nos faz retroceder no tempo e nas conquistas e nos remete às feiras de escravos”, diz.

Os juízes entendem que “há várias outras formas e campanhas para adoção que não expõem as crianças e adolescentes e nem os revitimizam”.

“No evento, além de serem ofertados como produtos, e não como sujeitos que são, corre-se o potencial risco de não serem adotados, mas serem revitimizados, gerando novo sentimento de abandono e lhes causando sérios impactos psicológicos, frustrações e dor pela rejeição”, adverte o núcleo de magistrados.

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