Alunos de medicina protagonizaram uma cena bizarra no último fim de semana ao entoarem músicas preconceituosas durante Jogos Universitários realizados em Vassouras, no interior do Rio de Janeiro.
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Foi no Intermed RJ-ES, que alunos do curso de medicina da Unig (Universidade Iguaçu) cantavam ao torcer pelo time da universidade. O cântico tinha frases como: “Meu dinheiro não acaba” e “Sou playboy, não tenho culpa se seu pai é motoboy“.
As imagens viralizaram nas redes sociais e internautas encheram a web de críticas contra os estudantes. “Isso é um absurdo!”, “Como eles têm coragem de externar tamanho preconceito?!!” e “Que tipo de médicos estão sendo formados?“ foram alguns dos comentários nas redes.
Nesta terça-feira (11), o prefeito de Vassouras – Severino Dias (DEM) – se reuniu com os organizadores do evento e, juntos, decidiram banir a Unig (Universidade Iguaçu) de Itaperuna dos Jogos Universitários de Medicina (Intermed) realizados na cidade.
“Pedimos para eles se reunirem hoje mesmo e saírem da cidade. Acredito que o esporte une pessoas, raças, credos e classes. Mas tudo que ouvimos foi o contrário disto”, disse Severino Dias ao portal ‘G1’.
Em postagem nas redes sociais, o prefeito falou mais sobre a decisão.
“Essa faculdade não participa mais de jogos aqui na nossa cidade. Os estudantes são bem-vindos aqui, mas têm que ter respeito, principalmente respeito com o ser humano”, declarou o prefeito Severino.
Assista ao vídeo que viralizou nas redes sociais:
Coro de estudantes de medicina: 🎵 Ei eu sou playboy, não tenho culpa que seu pai é motoboy 🎵.
Vivi 50 anos para poder ouvir isto 😢.
Volta logo @LulaOficial, só você é capaz de devolver a dignidade e o respeito aos mais humildes. pic.twitter.com/ydJycs7N6G— Carlos Augusto (@cauta_news) October 11, 2022
Além de expulsa dos Jogos, a Unig de Itaperuna também será multada e o dinheiro, revertido para o sorteio de uma moto entre os motoboys da cidade de Vassouras.
“Um grito de guerra de uma torcida participante do Intermed, Unig Itaperuna, se transformou em um ato explícito de preconceito e desrespeito a uma classe de trabalhadores tão digna e essencial, que são os motoboys. Profissionais que se mostraram corajosos, guerreiros e solidários, principalmente durante a pandemia”, escreveu o prefeito.
A Unig, que tem campus em Nova Iguaçu e em Itaperuna, alegou através de uma nota que “não tem ingerência sobre frases ditas por seus alunos, principalmente em ambiente externo, mas que, diante dos fatos e das disposições de seu código de ética e conduta, adotará providências possíveis para que episódios similares não se repitam“.
Já o Diretório Acadêmico Dr. Renam Catharina Tinoco (DARCT), do curso de medicina da Unig, disse que não compactua “com nenhum tipo de repressão ou desrespeito à raça, gênero ou classe social”.
Representantes da universidade lamentaram o fato e afirmaram, em entrevista à imprensa, que estão apurando e identificando os participantes do vídeo para tomar as medidas cabíveis após o ocorrido.
Estudante de medicina que é filho de motoboy comenta
Diante desse fato inconcebível, um jovem sergipano que é estudante de medicina e filho de um motoboy se manifestou nas redes sociais, comentando o caso.
Lázaro Santos Farias, de 25 anos, é natural da cidade de Nilópolis, no interior de Sergipe. Seu pai trabalha fazendo entregas de motocicleta e sua mãe é empregada doméstica.
“Eu sempre sonhei em (cursar) Medicina, desde criança. Mas aquilo não parecia que era para mim, era como se eu tivesse que escolher um sonho que fosse mais fácil. Historicamente, sabemos que o curso de medicina é elitizado“, declarou Lázaro em entrevista.
Depois de muito esforço, ele passou em três faculdades de medicina e escolheu a Universidade Federal do Alagoas (UFAL) para realizar o sonho de ser médico.
“Eu falava que Medicina era hereditário. Apenas os filhos dos médicos é que faziam medicina. Agora, vejo pessoas de famílias humildes nesses cursos. Filhos de motoboys, garçons, empregadas domésticas. A educação muda vidas, liberta e faz a pessoa pobre sair dessa condição, e isso incomoda muita gente”, declarou o estudante.
O jovem falou, ainda, sobre a dedicação do pai para que ele pudesse estudar e realizar seu sonho de vida.
“Meu pai começou a trabalhar como motoboy, mas, antes, ele era operário. Só que chegou uma fase em que começaram a aceitar apenas pessoas com ensino médio completo, e ele não tinha. (Apesar disso), meu pai sempre fez de tudo para eu entrar na faculdade e me manter. Hoje, estou no segundo ano (do curso), mas as dificuldades não terminam no vestibular”, disse.
Segundo Lázaro, esses “gritos de guerra” disfarçam o “elitismo e insatisfação por pessoas pobres ocuparem lugares que, historicamente, não seriam para elas“.
“Será que eles estariam aptos a atender esses motoboys futuramente, quando forem médicos? Como você vai se formar em uma área tão importante como medicina sem ter o mínimo de respeito pelas pessoas?“, questionou o estudante.
Veja uma foto de Lázaro Santos Farias com os pais:
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