Aconteceu, em dezembro de 2021, o julgamento do trágico incêndio ocorrido na Boate Kiss, em Santa Maria (RS), em janeiro de 2013 – que matou 242 pessoas e deixou mais de 600 feridas (e que completa 10 anos neste dia 27).
No nono dia de audiência, a advogada de um dos réus tomou uma atitude considerada pela maioria das pessoas como cruel, inaceitável e completamente absurda.
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Tatiana Borsa, defensora do réu Marcelo de Jesus dos Santos – vocalista da banda que acendeu o artefato que culminou no incêndio – reproduziu um áudio para que o tribunal do júri ouvisse.
Segundo ela, trata-se de uma ‘carta psicografada‘ de Guilherme Gonçalves – um dos jovens que morreu na tragédia – enviada para os pais dele.
A mensagem supostamente ditada pelo espírito desencarnado de Guilherme foi escrita por um médium no centro espírita Irmã Valquíria, localizado em Uberaba (MG), em 13 de junho de 2013, seis meses após a tragédia.
O conteúdo foi usado pela advogada de defesa para tentar sustentar a tese de que as vítimas não querem responsabilizar os réus pelo que aconteceu.
“A ficha ainda não caiu por completo, e o mês de janeiro ainda está vivo em minha memória. Estamos lutando tanto. Não está sendo fácil viver sem tantos afetos que deixamos. Ao invés de gastar nosso pensamento procurando por culpados, vamos nos unir em oração. Procurem aceitar as determinações divinas”, diz o início da carta psicografada.
“Eu também lamento tudo que ocorreu, mas só me resta me readaptar à realidade. Até hoje estão procurando uma justificativa para a tragédia que me vitimou, que fez não só o Brasil chorar, como muitos pais […] Pai e mãe, estimaria vê-los longe de qualquer protesto“, continua a mensagem.
“Os responsáveis também têm famílias e não tiveram qualquer intenção. Pensemos no fato como uma fatalidade. Mãe e pai, continuem a caminhar com a certeza de que não me perderam de maneira nenhuma”, diz a carta supostamente enviada pelo espírito de Guilherme Gonçalves, uma das vítimas do incêndio na Boate Kiss.
‘Carta psicografada’ gera revolta
Familiares das vítimas, que lutavam por Justiça após tantos anos da tragédia, ficaram extremamente incomodados com a veiculação do áudio da ‘carta psicografada’ durante o julgamento e chegaram a deixar a sala.
Além de Marcelo, outras três pessoas também eram acusadas de homicídio duplamente qualificado (motivo torpe e emprego de meio cruel) por 242 vezes – e tentativa de homicídio por mais 636 vezes, que foi o número de sobreviventes identificados.
São eles: Luciano Bonilha Leão, que também integrava a banda Gurizada Fandangueira, que se apresentava naquela madrugada na casa noturna, e os donos da Boate Kiss – Elissandro Callegaro Spohr e Mauro Londero Hoffmann.
Veja o vídeo do momento em que a carta psicografada é lida no julgamento da Boate Kiss:
Defesa de réus no júri da Boate Kiss apresenta suposta carta psicografada de uma das vítimas da tragédia.
No trecho escolhido, jovem diz que “responsáveis também têm famílias” e os isenta de responsabilidade.
Alguns familiares deixaram a sala durante o episódio. pic.twitter.com/UshgPNL1ba
— Metrópoles (@Metropoles) December 10, 2021
Internautas se revoltaram ao assistirem o vídeo em que a ‘carta psicografada‘ foi lida no tribunal. “Apelaram demais. Que coisa absurda!“, declarou um rapaz.
“Como eu queria desver isso“, disse outro. “Isso aqui é uma das coisas mais bizarras que já vi na vida”, comentou uma mulher.
“Estão tratando uma parada séria como um episódio de ‘The Office’. Não é possível“, disse outra pessoa indignada com a atitude da defesa de um dos réus do processo.
“Na moral eu sairia presa desse local depois de dar soco em todo mundo que proporcionou essa presepada“, afirmou uma jovem no Twitter.
Veja uma foto da fachada da Boate Kiss um ano após o trágico incêndio que vitimou 242 pessoas em Santa Maria:
Julgamento da Boate Kiss já começou envolto em polêmicas
O polêmico julgamento da tragédia da Boate Kiss começou dia 1º de dezembro de 2021 no Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul, após quase completar uma década.
A notícia daquela madrugada de 27 de janeiro de 2013, em Santa Maria, continua fresca e viva na memória de todos os brasileiros que se solidarizaram com o incêndio em uma casa de show que vitimou 242 jovens e deixou mais de 600 pessoas feridas.
Entretanto, o julgamento fofi polêmico não só pelo atraso processual, mas também pelo fato de que o crime foi a júri popular – que, de acordo com a legislação brasileira, se dá somente a crimes dolosos contra a vida, que são aqueles em que o agente prevê o resultado lesivo de sua conduta e, mesmo assim, leva-a adiante.
O processo judicial de apenas quatro réus que responderam em liberdade – os proprietários da Boate Kiss, Elissandro Spohr e Mauro Hoffmann, o músico da banda Gurizada Fandangueira, Marcelo de Jesus dos Santos, e o produtor cultural Luciano Bonilha Leão –, os julga por homicídio simples com dolo eventual das vítimas fatais e tentativa de homicídio daqueles que ficaram feridos.
Inicialmente, o Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul interpretou o caso como uma sentença a ser decidida por juízes em processos criminais.
No entanto, o Ministério Público junto a Associação dos Familiares de Vítimas e Sobreviventes da Tragédia de Santa Maria (AVTSM) entraram com recurso.
Neste recurso especial foi apresentado indícios que apontam o caso Boate Kiss como um crime de homicídio doloso, fazendo com que o Tribunal alterasse a forma de julgamento dos quatro réus envolvidos.
Esperava-se que este fosse o julgamento mais longo de toda a história do judiciário gaúcho, com duração de duas semanas entre defesa e acusação – ao todo foram ouvidas 14 vítimas sobreviventes, 19 testemunhas sobre o caso, além dos réus.
Além disso, as testemunhas ficaram em isolamento até o dia do depoimento, assim como os jurados incomunicáveis durante todo o processo judicial.
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