Maysa Vilela
O Brasil vai sediar um teste que visa analisar os efeitos da semana de trabalho de quatro dias.
A iniciativa, que ocorrerá entre junho e dezembro de 2023, é uma parceria entre a organização sem fins lucrativos ‘4 Day Week’, que realiza pesquisas globais sobre a redução da carga de trabalho, e a empresa brasileira ‘Reconnect Happiness at Work’.
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Nos meses de junho e julho, a ‘Reconnect’ disponibilizará informações sobre o programa para todas as empresas que tiverem interesse em participar no Brasil.
Para se qualificar, não há necessidade de um número mínimo de funcionários. Basta preencher um formulário disponível em para obter acesso à orientação. Acesse o formulário clicando aqui.
As empresas poderão se inscrever para o início do experimento em agosto e começar a se preparar para adotar o modelo em setembro. Haverá um custo para participar do estudo, que ainda será determinado, segundo informações da revista ‘Exame’.
Como funcionará no Brasil?
O modelo que será adotado nas empresas participantes é o chamado 100-80-100: 100% do salário, trabalhando 80% do tempo, mantendo 100% da produtividade.
Aspectos como o nível de estresse da equipe, equilíbrio entre vida profissional e pessoal, resultados financeiros e rotatividade de funcionários serão avaliados no final do experimento.
A metodologia da iniciativa foi desenvolvida pela universidade americana Boston College. A instituição será responsável pelas pesquisas antes do início do experimento, bem como pelas análises após três meses da implementação e ao término do piloto.
Dessa forma, espera-se assegurar a precisão dos dados, para que as empresas possam decidir se continuarão com a semana de trabalho de quatro dias de expediente.
Mitos da produtividade
Uma das grandes crenças que permeiam o ambiente de trabalho é que a produtividade está diretamente relacionada ao número de horas trabalhadas. No entanto, essa visão está prestes a ser posta à prova aqui no Brasil, como explica Renata Rivetti, diretora da ‘Reconnect’ e especialista em felicidade corporativa.
Rivetti esclarece que “o projeto, inicialmente centrado no aumento da produtividade, acaba resultando em benefícios para os indivíduos, suas famílias e toda a sociedade. As empresas que adotaram a semana de trabalho de 32 horas notaram um maior atrativo e retenção de talentos, um envolvimento mais intenso do cliente e uma melhor saúde e felicidade dos colaboradores”.
Além de possivelmente impulsionar a produtividade, a semana de trabalho de quatro dias pode trazer benefícios significativos para a saúde mental dos trabalhadores.
De acordo com um estudo da consultoria McKinsey, que envolveu 15 mil funcionários de 15 países diferentes, 59% das pessoas estão lidando ou já lidaram com algum problema relacionado à saúde mental.
O estudo ainda revela que os trabalhadores que enfrentam problemas de saúde mental têm quatro vezes mais chances de sair da empresa e duas vezes mais chances de se sentirem desengajados no trabalho.
Os problemas de saúde mental não só afetam os indivíduos, mas também têm um custo significativo para as organizações e a sociedade como um todo. Rivetti explica:
“A adoção da semana de trabalho de quatro dias é benéfica para a empresa, para os clientes, para os colaboradores e para a sociedade. Será uma revolução no mundo do trabalho, possibilitando mudanças na forma como atuamos, de maneira mais produtiva e saudável”.
Onde a semana de 4 dias já foi testada?
Diversos países ao redor do mundo já experimentaram uma semana de trabalho de quatro dias. Veja como isso funcionou e quais foram os resultados:
Emirados Árabes Unidos
Os pioneiros da redução do número de dias de trabalho foram os Emirados Árabes Unidos. A partir de janeiro de 2022, todos os servidores públicos começaram a trabalhar apenas 36 horas por semana, distribuídas em quatro dias úteis.
Reino Unido
No Reino Unido, cerca de 60 empresas participaram de um teste de seis meses com a semana de trabalho de quatro dias. Elas tinham a opção de adotar uma jornada de 8 horas por dia durante quatro dias ou espalhar as mesmas 32 horas ao longo de cinco dias. Salários e benefícios permaneceram inalterados.
O resultado? A vasta maioria das empresas (92%) optou por manter a nova rotina após o término do teste. A receita média dessas empresas aumentou 35% em comparação com o período anterior, e 90% dos funcionários expressaram o desejo de continuar trabalhando apenas quatro dias por semana.
Curiosamente, 15% deles disseram que não há salário suficiente para fazê-los voltar a uma rotina de cinco dias de trabalho.
Bélgica
No início de 2022, a Bélgica adotou a semana de trabalho de quatro dias. Os trabalhadores passaram a ter o direito de escolher entre jornadas de quatro ou cinco dias, mantendo o mesmo salário. A jornada de trabalho total na Bélgica é de 38 horas, mas os empregados podem optar por trabalhar 45 horas em uma semana e compensar as horas extras na semana seguinte.
Islândia
A Islândia realizou o maior teste do mundo entre 2015 e 2019, reduzindo a jornada semanal de trabalho de 40 horas para 35 ou 36 horas, sem redução de salários. Os resultados foram promissores, com as empresas mantendo ou até mesmo aumentando a produtividade.
Suécia
Na Suécia, um teste com a semana de trabalho de quatro dias e jornada de 6 horas foi realizado em 2015 e teve resultados variados. Enquanto alguns partidos políticos consideraram a mudança custosa, algumas empresas, como a Toyota, decidiram adotar a nova rotina.
Espanha
A Espanha também planeja realizar testes ao longo de dois anos, com o governo oferecendo até 200 mil euros para custear a transição para a nova jornada de trabalho.
De acordo com a revista ‘Exame’, a partir dessas experiências é possível observar que a semana de trabalho de quatro dias pode trazer benefícios tanto para os empregados quanto para as empresas.
No entanto, o sucesso da implementação depende de vários fatores, incluindo o tipo de trabalho, a cultura da empresa e as expectativas dos empregados.
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