O ano era 2002. Casa dos Artistas 2 estava no ar e conquistava mais que o dobro de audiência que o Fantástico, da Globo (48 pontos a 21) no dia de sua final. Nomes como Ellen Roche, André Gonçalves, Suzana Alves (Tiazinha) e Joana Prado (Feiticeira) ainda brigavam pelo prêmio de R$ 400 mil, mas quem foi entrevistado pelo repórter Alexandre Frota (!) como grande campeão foi Rafael Vanucci, cantor e filho de Vanusa, que participou da disputa graças a um convite-relâmpago feito quando o programa já estava no ar.
O tempo passou, e o início dos anos 2000 ficou para trás. Quinze anos depois, é praticamente impensável imaginar o SBT superando os domingos da Globo por tanta margem, diversos dos nomes presentes na casa continuam a frequentar as telas da TV, Alexandre Frota tornou-se mais conhecido por suas opiniões políticas que por sua carreira artística. Mas e o vencedor do programa?
O E+, site do jornal ‘O Estado de S. Paulo’, foi atrás de Vanucci, que hoje em dia é empresário e produtor sertanejo, e falou a respeito de sua volta aos reality shows anos depois, o que fez com o prêmio do Casa dos Artistas, e sua relação de amizade com dois cantores amados pelo público que partiram precocemente: Leandro e Cristiano Araújo.
Casa dos Artistas
Curiosamente, Rafael não estava sequer entre o elenco de participantes ao início do programa. Apesar de ter feito uma pré-seleção na emissora, não foi chamado. As coisas só mudaram graças à desistência do rapper Xis, após alguns dias de confinamento.
“Me lembro como se fosse hoje. Estava gravando uma matéria para um programa do Sérgio Mallandro, e, no meio, minha assessora tocou meu telefone. Era o Magrão, diretor do SBT, falando que eu tava sendo chamado para entrar na Casa em seis horas. Foi até uma coisa engraçada, porque não deu nem tempo de eu arrumar a mala, fui direto. Minha assessora foi num shopping, comprou umas roupas e levou”, conta Vanucci.
No dia da final, Silvio mostrou no ar uma enquete feita na internet, que contava com mais de 150 mil votos e mostrava Vanucci como azarão, com apenas 6% da preferência dos internautas. O sistema de eliminação, porém, era diferente: as pessoas ligavam para o programa ao vivo e davam seu voto diretamente para Silvio – o que gerava uma amostragem pequena, mas aumentava a emoção. “As pesquisas que o Silvio mostrava variavam muito. Dependendo do dia, o público tava torcendo pra um, dependendo pra outro”, ressalta.
O prêmio
Rafael conta que aproveitou os R$ 400 mil do prêmio para fazer investimentos, viajar e comprar um apartamento para sua mãe. “O maior prêmio foi sair de lá reconhecido como uma pessoa bacana. Filho de artista, como eu já era, as pessoas puderam me conhecer muito mais.”
Além de agradecer o apoio de seus fãs, amigos e familiares, Rafael dedicou o prêmio ao cantor Leandro, morto anos antes, em 1998: “A pessoa que mais me incentivou a acreditar na minha voz, no meu talento, foi o Leandro. Então esses R$ 400 mil eu dedico a você, onde você estiver, eu sei que você lutou por isso”.
Leandro e Cristiano Araújo
Vanucci relembra que começou a trabalhar no meio sertanejo quando tinha cerca de 16 anos de idade, como secretário do cantor Leandro, que à época fazia dupla com Leonardo. “Meu padrasto era um dos empresários deles, e me chamou porque queriam me conhecer. Meu pai de verdade, Augusto César Vanucci, era diretor da TV Globo e foi o primeiro a colocar música sertaneja na TV brasileira”, conta, sobre o início do elo.
“Ele era como se fosse um padrinho, não um patrão. Quando ele faleceu, meio que perdi o rumo. Não sabia se queria trabalhar mais com música sertaneja. O Leandro queria muito que eu cantasse. Quando ele morreu, não sabia se voltava a cantar para homenagear ele, se continuava trabalhando com música sertaneja. Foi um baque muito grande.”
Anos depois, em 2015, por infelicidade do destino, Rafael sofreu com a perda de outro cantor com quem trabalhava, Cristiano Araújo: “Era um grande amigo. Costumo dizer que construí a carreira dele junto com os empresários e o pai dele. Então, me sinto parte da família do Cristiano. Era um cara excepcional, ser humano fantástico”.
“A vida é cheia de surpresas e pude aprender muito com o Leandro e o Cristiano, mas também acho que ensinei um pouco. Sou muito grato por essas duas pessoas. Acho que eles dois e o meu pai são meus guias. Quando coloco a mão em alguma coisa, sei que lá de cima eles tão olhando e falando: ‘Vamos cuidar desse meninio pra que esse projeto dê certo’! [risos]”.
Volta aos realitys
Após a morte de Cristiano Araújo, em junho de 2015, Vanucci conta que recebeu diversos convites para participar de reality shows e programas de TV, que foram recusados. Até o dia em que foi chamado para participar do Além do Peso, quadro do Hoje em Dia em que os participantes precisavam emagrecer.
“Estava muito abalado psicologicamente. Fiquei seis meses sem trabalhar, caí numa depressão profunda e quando recebi o convite da Record para fazer o Além do Peso, aceitei porque tava muito acima do peso, com a saúde debilitada, e me disseram que teria uma equipe de psicólogos, psiquiatras e médicos para cuidar da gente, o que seria muito importante para mim, encarar outro momento de superação”, conta.
Medindo 1,82m, Rafael entrou no programa com cerca de 141 quilos e saiu com 105, fazendo com que tivesse 66% dos votos do público e ganhasse um carro zero. No dia da final, de forma semelhante à que fez no Casa dos Artistas, dedicou o prêmio a Cristiano Araújo, vestindo uma camisa com o rosto do cantor.
Não é para qualquer um ganhar dois reality shows”, brinca ele, que, hoje em dia, já recuperou parte do peso perdido: “Devo estar com 125, quase 130. Sou muito desleixado, penso no trabalho, na família, e não penso em mim”.
Questionado se voltaria a um reality show, como por exemplo A Fazenda, Vanucci não mostra tanto interesse: “Não tenho nada contra reality show, afinal, ganhei dois. Mas não sei, teria que analisar uma proposta se recebesse, mas não sei se aceitaria. Acho que não”.
Hoje em dia
Atualmente, Rafael permanece imerso no mundo da música sertaneja, e se define como empresário, diretor, produtor musical, artístico e compositor.
Entre os nomes com que trabalha atualmente, cita Bento Nunes e a dupla Ivan e Alexandre, além de Felipe Araújo, que é ninguém menos que o irmão de Cristiano Araújo.
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