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Como João de Deus agia: vítimas escolhidas e abuso como ‘parte do ritual’

Declaração é da Polícia Civil; inquéritos que apuram 15 casos de abuso sexual devem ser concluídos até a próxima sexta-feira

A Polícia Civil de Goiás deve encerrar, até sexta-feira (21), os primeiros inquéritos contra o médium João Teixeira de Faria, o João de Deus. A investigação, que apura 15 casos de abuso sexual, vai apontar que o líder religioso selecionava suas vítimas, normalmente mulheres entre 25 e 40 anos, e usava do desconhecimento das pessoas para fazer parecer que os atos libidinosos eram parte de um atendimento espiritual comum.

Na terça-feira (18), a Justiça de Goiás rejeitou um pedido de habeas corpus em favor de João de Deus. A revogação da prisão preventiva havia sido pedida pela defesa do líder espiritual. Com a negativa, a estratégia da defesa será tentar um novo pedido para reverter a prisão preventiva por outra medida cautelar, como a prisão domiciliar.

“Apenas a liminar foi apreciada e negada. O julgamento final do habeas corpus deverá se dar após o recesso. Discordamos da decisão e vamos recorrer ao Superior Tribunal de Justiça”, afirmou o advogado Alberto Zacharias Toron.

Antes de encerrar os inquéritos, a Polícia Civil de Goiás fez, por mais de quatro de horas, uma operação em pelo menos três endereços em Abadiânia (GO), cidade onde o médium ficou conhecido como líder religioso. São eles: a Casa Dom Inácio de Loyola, onde João de Deus fazia os atendimentos espirituais, a residência pessoal e o endereço de uma entidade comunitária, conhecida como Casa da Sopa, que distribui alimentação moradores carentes.

Da casa onde mora João de Deus, a polícia retirou um malote de documentos e mídias. Na Casa Dom Inácio de Loyola, os policiais passaram pelo escritório administrativo, pelos salões de cultos e também pelas salas pessoais de João de Deus.

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Investigação contra João de Deus

Na conclusão dos inquéritos, os policiais devem explicar parte do padrão de comportamento do líder religioso com as mulheres que o acusam de abuso. Segundo as investigações, geralmente João de Deus selecionava as potenciais vítimas para um atendimento privativo e, de acordo com os depoimentos, trancava a porta do ambiente em que fazia essa consulta.

A maioria das mulheres relata que, sentado em uma poltrona, ele pedia para que as vítimas se posicionassem de costas, com olhos fechados. Depois, iniciava uma espécie de massagem abdominal nas pacientes. De acordo com os policiais, João de Deus pedia para que as mulheres colocassem os braços para trás e, muitas vezes, repetissem a massagem na barriga dele também, às vezes sob a desculpa de “passar energia”. A partir daí, o médium praticaria os abusos, fazendo com que as mulheres o tocassem nas partes genitais, ainda com os braços para trás e de costas.

É por esse tipo de comportamento que o médium deve ser indiciado por violência sexual mediante fraude, artigo 215 do Código Penal. Na avaliação da Polícia Civil de Goiás, a forma de atuar de João de Deus tinha o objetivo de fazer parecer que essas práticas eram comuns para a “cura” dos problemas espirituais.

“É uma situação em que a pessoa está sob fraude porque ela está sendo enganada de que aquele procedimento é necessário, que aquela energia vai acontecer. Por que ela não grita, não berra, não sai correndo? Primeiro porque ela está acreditando que aquilo era uma coisa importante (ao procedimento espiritual). Segundo porque ele fazia de costas, numa penumbra. Elas ficavam confusas quando estavam tocando (nos genitais do médium)”, explicou a delegada Karla Fernandes, coordenadora da força-tarefa e responsável pelas oitivas com as testemunhas.

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