Maysa Vilela
Uma história chocante e revoltante aconteceu em um prédio em Peckham, bairro no sul de Londres. Durante dois anos, o corpo da secretária médica Sheila Seleoane, de 58 anos, permaneceu em seu apartamento, sem que ninguém descobrisse.
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A Peabody, associação habitacional que administrava o prédio, chegou a pedir que o governo pagasse diretamente o aluguel da moradora morta.
Apesar das várias reclamações dos vizinhos, ninguém foi até lá e demorou tanto tempo para descobrirem que Sheila havia morrido.
O edifício Lord’s Court faz parte de uma entidade sem fins lucrativos que fornece moradias de baixo custo para pessoas com necessidades financeiras no Reino Unido.
Um relatório independente apontou que houve várias “oportunidades desperdiçadas“ de encontrar o corpo de Sheila antes – o que infelizmente não aconteceu, apesar do mau cheiro, das larvas aparecendo nos apartamentos de vizinhos, entre outros incômodos absurdos.
“Havia larvas no quarto, na sala e no banheiro. E mais ou menos em todos os meus móveis”, lembra uma vizinha.
“Você sentava no sofá e depois de um tempo encontrava uma larva esmagada […] Foi como viver em um filme de terror“, recorda.
“É muito triste que alguém possa estar em seu apartamento por tanto tempo e não ser encontrado. Ninguém estava sequer se esforçando para entrar em contato com ela”, diz a vizinha.
Donatus Okeke mora em um apartamento de dois quartos no Lord’s Court com sua esposa Evelyn e seus três filhos.
Sobre o tempo que passou no prédio com a mulher morta no apartamento vizinho, ele conta que o mau cheiro era muito forte. Mesmo assim, nada foi feito por 2 anos.
“Não conseguíamos nem dormir no apartamento. Não dava nem para comer porque o cheiro era muito, muito ruim”, disse Donatus.
Corpo encontrado após 2 anos
Depois que o cadáver de Sheila finalmente foi encontrado pela polícia, os vizinhos ficaram impressionados e tristes devido ao longo tempo que viveram no prédio com o corpo de uma mulher se decompondo ali.
“Essa é a única coisa que eu lamento – que eu acreditei na Peabody. Eu lamento não ter chamado a polícia mais cedo, porque eu apenas confiei que eles iriam fazer algo”, disse uma das vizinhas à ‘BBC’.
A história chocou os moradores do prédio, que estão avaliando se entram com um processo contra a Peabody. A associação habitacional, por sua vez, admitiu que não fez o suficiente para entender a situação.
A cobrança do aluguel e as verificações de segurança do gás também mudaram como resultado do caso de Sheila. A organização admitiu que seu relacionamento com os moradores de Lord’s Court era ruim e pediu desculpas a eles.
Os vizinhos de Sheila se dizem traumatizados e estão conversando com advogados para avaliar a possibilidade de ação judicial.
“Eu sempre me perguntei o que estava acontecendo atrás daquela porta…“, disse uma das vizinhas.
O caso levanta também questões sobre a solidão, um problema que afeta cerca de 7% dos adultos britânicos e pode aumentar a chance de uma morte prematura. Afinal, Sheila Seleoane era extremamente solitária.
Como ninguém sentiu falta dela nos mais de 2 anos após sua morte?
No velório de Sheila, por exemplo, duas únicas pessoas compareceram. Um meio-irmão que não falava com ela há anos e um representante da associação habitacional que tanto falhou na descoberta da morte da mulher.
“Isso me fez olhar para meus vizinhos e minha comunidade de uma maneira diferente. Devemos realmente cuidar das outras pessoas“, diz uma das vizinhas em entrevista à ‘BBC’.
Agora os moradores do edifício Lord’s Court lidam com o trauma que o descaso das autoridades gerou no local.
“Eles não sabem as noites sem dormir que passamos depois disso e como isso nos afetou“, declarou uma vizinha.
“Ainda me afeta toda vez que saio de casa – vejo o apartamento de Sheila e me lembro constantemente do que aconteceu lá”, acrescentou ela.
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