A repórter Bruna Drews, que trabalhava no programa ‘Brasil Urgente’, da TV Band, voltou atrás e se retratou após ter processado o apresentador José Luiz Datena por assédio sexual. Ela registrou um documento público em cartório, onde alega ter mentido sobre as acusações e pede desculpas pelos transtornos causados pela falsa denúncia.
No entanto, após repercussão do documento na imprensa especializada, Bruna escreveu um longo texto em sua conta do Instagram onde diz ter sido “induzida e mal orientada” a assinar as declarações. Ela garante que não mentiu sobre a denúncia de assédio.
Tudo começou quando, segundo a jornalista, em ação protocolada no Ministério Público de São Paulo em janeiro deste ano, Datena havia dito que ela não precisava emagrecer por já ser “muito gostosa”, que já se masturbou muitas vezes “pensando nela” e que considerava “um desperdício” que ela namorasse uma mulher.
No texto de retratação registrado em cartório no último sábado (26), ela inocentou o apresentador das acusações e afirmou que jamais se sentiu constrangida com as declarações de Datena. Ela escreveu que as falas “não passaram de brincadeiras”.
No documento, ela se dirige diretamente ao apresentador e à sua família, se dizendo arrependida por ter causado danos a eles. Por fim, também garante que abrirá mão de eventuais decisões do processo aberto, que ainda corre na Justiça.
Confira o texto do documento na íntegra:
“A presente se trata de uma retratação em razão de processo judicial, movido por mim, que afirmei ter sido vítima de assédio sexual em transmissões do programa de televisão Brasil Urgente, da emissora Band em confraternização ocorrida em 07 de Junho de 2018 e em outras oportunidades. Ainda esclareço, que tais fatos não condizem com realidade e nunca ocorreram, sendo que os vídeos dos programas ao vivo, juntados aos autos, não passaram de brincadeiras, consignando que não me senti constrangida com referidos evento e aproveito a declaração para, também, pedir desculpas ao Senhor José Luiz Datena e sua família pelos transtornos causados, pretendendo que a presente retratação sirva para restabelecer qualquer dúvida em relação à sua idoneidade. E por fim, renuncio a qualquer direito e a eventuais reflexos relacionados com o pedido de indenização decorrente de assédio sexual e moral alegados, perante todos os órgãos administrativos e judiciais, em qualquer grau de jurisdição, nas esferas trabalhistas, cível e criminal”.
‘Induzida e mal orientada’
No começo da tarde desta segunda-feira (28), Bruna publicou um longo texto em sua conta do Instagram onde afirma ter sido coagida a assinar o documento.
“A verdade é que meu processo de assédio sexual contra o apresentador inexplicavelmente foi arquivado. Não houve investigação policial, meu depoimento não foi colhido e nenhuma testemunha foi ouvida. A justiça não me permitiu brigar pelos meus direitos. A situação se inverteu e acabei processada por calúnia e difamação, mas não tinha condições psicológicas e financeiras para encarar mais esta briga. Fui induzida a fazer um acordo”, disse.
“No entanto, não estava totalmente consciente das consequências cíveis e criminais de declarar fatos que não aconteceram; somente o fiz porque pensei que assim se encerrariam todos os processos. Os fatos aconteceram como eu havia declarado inicialmente mas a outra parte envolvida conseguiu reverter inexplicavelmente a situação”, continuou.
“Assinei tal carta na intenção de recuperar a minha saúde física e mental e enterrar o ocorrido. Mais uma vez digo: EU NÃO MENTI . Mulheres que passaram por isso sabem como é difícil encarar essa briga e vence-la”, escreveu.
Confira o texto completo:
Datena se manifesta
O colunista Leo Dias, do portal ‘Uol’, entrou em contato com o apresentador José Luiz Datena. Sobre o assunto, ele diz se sentir aliviado pela retirada das denúncias, mas diz que os danos causados jamais poderão ser recompensados.
“O mau que isto me causou e a meus filhos, netos e, principalmente, esposa é irreparável, mas, enfim, a verdade aparece. Não guardo mágoa de ninguém, pois a vida e ser humano são assim mesmo”, disse.
Relembre o caso
Em janeiro de 2019, a jornalista afirmava que o assédio em questão aconteceu no dia 7 de junho de 2018, em um bar em São Paulo, onde a equipe do já extinto programa ‘Agora É Com Datena’ comemorava o fim das gravações de um quadro.
De acordo com Bruna Drews, a ação só foi movida tanto tempo depois porque sofreu crise de depressão e pânico – ela ficou afastada entre julho e janeiro e também processou a Band, acusando a emissora de ser conivente com as atitudes do apresentador.
“Eu já bati muita punheta pra você, você nem imagina o quanto. Eu batia punheta pra você antes e depois do programa. […] Não tenho nenhum preconceito… minha filha já ficou com mulheres, mas é um desperdício você namorar uma mulher, não deve ter conhecido o homem certo”, teria dito Datena, conforme alegações apresentadas no documento da ação.
Bruna Drews começou a trabalhar na Band em 2014 e atuou como repórter do ‘Brasil Urgente’ a partir de 2015. No ano seguinte, ela passou a se afastar do trabalho periodicamente devido à pressão do jornalismo policial, que lhe causou síndrome do pânico.
Em suas aparições no ‘Brasil Urgente’, Bruna Drews costumava ser recebida com cantadas por parte de Datena. A jornalista parecia lidar bem com os comentários do apresentador, mas, na ação, ela diz que se sentia constrangida com as atitudes, como quando Datena interrompia suas reportagens para falar de sua beleza física e pedia para que as câmeras mostrassem seu corpo todo.
Em contato com a reportagem do site ‘Notícias da TV’, José Luiz Datena negou as acusações de Bruna Drews. “Isso não é verdade, é falso. Eu disse para ela que ela era uma pessoa bonita. Dizia no ar, pra todo o Brasil ouvir, [que é] bonita e competente. Ela nunca reclamou, só me agradeceu por tratá-la bem”, afirmou.
“Um dia, durante as gravações do quadro ‘A Fuga’, ela estava muito magra, passou mal e eu pedi para que ela fosse atendida. Na comemoração, repeti a ela que ela era muito bonita e que não precisava emagrecer, porque ela já era competente. Tirando isso, todo o resto é mentira, calúnia e delírio”, completou o apresentador, que disse que a repórter estava “bebendo” e que pediu para que outras pessoas a levassem para casa – ela, por sua vez, afirma que estava sóbria e apontou que, na verdade, Datena bebeu “dois uísques”.
A Band não se manifestou sobre o caso.
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