No último dia 1º de março, o ‘Fantástico’, da TV Globo, exibiu uma matéria que emocionou muita gente: o doutor Drauzio Varella visitou um presídio masculino e mostrou a realidade vivida pelas presas transexuais. A matéria trouxe um tom pesado, pois mostrou o sofrimento dessas pessoas que enfrentam muitos problemas por estarem confinadas junto com os homens.
Uma parte da reportagem acabou se destacando e foi severamente reproduzida na internet nos dias seguintes: o médico mostrou uma detenta chamada Suzy Oliveira e a questionou sobre quanto tempo ela não recebia nenhuma visita. Ao ouvir a resposta, “oito anos”, Drauzio ficou tocado com tamanha solidão e abraçou a detenta.
Acostumado a se voluntariar em presídios, Drauzio Varella tem um olhar sensível para falar de temas como este. A cena viralizou na internet e muitas pessoas se compadeceram da situação da detenta.
Após a exibição da reportagem, por exemplo, Suzy recebeu mais de 200 cartas e presentes em cinco dias, afirmou a Secretaria de Administração da Penitenciária de São Paulo.
Neste domingo (8), no entanto, o assunto voltou a ser muito comentado e figurou entre os assuntos mais falados do dia. O motivo, dessa vez, era exatamente o contrário. Depois de uma semana de exaltação, a reportagem passou a ser amplamente criticada.
Tudo começou após o deputado estadual Douglas Garcia divulgar documentos judiciais que afirmam que Suzy teria sido condenada pelo estupro e homicídio de uma criança de nove anos de idade, em 2010. É importante ressaltar que a veracidade das documentações ainda não foi comprovada.
Após muita discussão nas redes sociais, Drauzio Varella quebrou o silêncio e usou suas contas oficiais para se pronunciar sobre o assunto. Ele esclarece que os crimes cometidos pelos detentos não é de sua alçada.
“Há mais de 30 anos, frequento presídios, onde trato da saúde de detentos e detentas. Em todos os lugares em que pratico a Medicina, seja no meu consultório ou nas penitenciárias, não pergunto sobre o que meus pacientes possam ter feito de errado. Sigo essa conduta para que meu julgamento pessoal não me impeça de cumprir o juramento que fiz ao me tornar médico”, escreveu o médico na nota.
“No meu trabalho na televisão, sigo os mesmos princípios. No caso da reportagem veiculada pelo Fantástico na semana passada (1º/3), não perguntei nada a respeito dos delitos cometidos pelas entrevistadas. Sou médico, não juiz”, finalizou.
Confira:
Esclarecimento do dr. Drauzio sobre a reportagem produzida e veiculada pelo @showdavida, no último domingo, 01 de Março. pic.twitter.com/b02JQ5tW9d
— Portal Drauzio Varella (@drauziovarella) March 8, 2020
Em meio à polêmica, na edição deste domingo (8) do ‘Fantástico’, a emissora também se pronunciou sobre o caso e os apresentadores do programa também leram uma nota de Drauzio, fazendo as mesmas afirmações.
“O quadro do Dr. Drauzio Varella foi sobre uma situação que o Estado brasileiro precisa enfrentar: mulheres trans cumprem as penas pelos crimes que cometeram em meio a presos homens, o que gera toda sorte de problemas. O crime das entrevistadas não foi mencionado, porque este não era o objetivo da reportagem. Foi divulgada apenas uma estatística geral sobre eles”, disse Poliana Abritta.
“O quadro gerou muita empatia no público mas também críticas exatamente por não mencionar os crimes. Sobre as críticas, o Dr. Drauzio Varella divulgou a seguinte nota, que o ‘Fantástico’ apoia integralmente: ‘Cuido da saúde de criminosos condenados há 30 anos. E por razões éticas não busco saber o que de errado fizeram. Sigo essa atitude para cumprir o juramento que fiz ao me tornar médico. E para não cair na tentação de traí-lo atendendo apenas aqueles que cometeram crimes leves. No quadro do Fantástico, segui os mesmos princípios'”, completou.
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