A marca carioca Loja Três enfrentou uma série de acusações na última segunda-feira (20) apontadas por uma reportagem do UOL. Onze ex-funcionários da empresa relataram casos de racismo, gordofobia, assédio moral, abuso de poder e irregularidades trabalhistas praticadas principalmente por Guta Bion, dona da loja, e por seus filhos Fernanda e Francisco.
Juliana Neves, estudante de moda que trabalhava na loja do Shopping JK Iguatemi, em São Paulo, conta que foi obrigada a escolher entre manter suas tranças ou continuar trabalhando. “Dizem que são uma marca que abraça a diversidade, que respeita os outros, mas isso não acontece lá dentro”, disse. Outras ex-funcionárias relataram casos de racismo, como Ruth de Oliveira, que foi avisada que deveria “manter o black [power] arrumadinho”, para não parecer “desleixada”.
A empresa ainda foi acusada de gordofobia, ao fornecer uniformes pequenos demais para as funcionárias, e de assédio moral, ao regular o uso de papel higiênico e confiscar o celular de vendedoras. As denúncias foram feitas anonimamente ao Ministério Público do Trabalho (MPT) do Rio de Janeiro, que abriu dois inquéritos para investigar a loja. De acordo com a reportagem, o procurador do caso tentou notificar a Loja Três pelo menos três vezes desde junho de 2018, mas a empresa não se mostrou disposta a conversar sobre o assunto.
Com o mote de “por trás de peças, pessoas”, a loja foi acusada de hipocrisia por muitos seguidores nas redes sociais. Em um comentário deixado na última publicação, a cantora Mahmundi, que fez parceria com a marca no fim de 2018, se posicionou: “Pois é, fica aqui uma lição pra nós: assumir um erro é coisa pra gente forte, gente séria, gente. É preciso muito mais que um texto bem escrito pra ser de verdade. É preciso ser gente. Parabéns, herdeiros. Mais um dia acaba e só confirmo quem vocês são. Vocês não merecem ter aquelas mulheres incríveis por perto. Retrato da aristocracia carioca. Um fardo, um lixo”.
Em nota divulgada no Instagram, a Loja Três diz que a principal acusada, Guta Bion, já se afastou voluntariamente enquanto os fatos são apurados, mas que desconhece as denúncias feitas contra a empresa.
Leia o comunicado na íntegra:
“Hoje acordamos com uma notícia que nos deixou muito tristes. Por tudo que construímos até aqui, por valorizarmos tanto as 154 pessoas que trabalham com a 3 e por acusações que sabemos que não retratam a realidade do nosso dia a dia. Entendemos também que tudo na vida é aprendizado e estamos aqui, abertos, pra esclarecer qualquer ponto sobre o nosso processo de trabalho.
Sempre valorizamos as pessoas que estão por trás da marca, vocês sabem disso. Também valorizamos essa relação de transparência com vocês, nossos clientes, e com nossos colaboradores. É nisso que acreditamos e, por isso, colhemos tantos frutos positivos até hoje. Ninguém cresce sozinho nem do nada. A construção de uma marca é um desafio muito grande. Só quem vive na pele sabe. E lá se vão 6 anos desde que, juntos, nascemos e construímos tanta coisa. Tivemos momentos difíceis nessa trajetória, mas também muitas alegrias. Todas as nossas conquistas se devem aos nossos clientes, equipe e a tantos colaboradores e fornecedores que se orgulham de trabalhar conosco. Buscamos sempre proporcionar um ambiente inspirador, humano e, principalmente, que respeite a individualidade de cada um. Não é à toa que criamos tantas relações incríveis aqui dentro.
A maior parte das denúncias que lemos na matéria são anônimas e dizem respeito a fatos que desconhecemos, o que dificulta a sua necessária apuração e o importante diálogo com as pessoas envolvidas. Nosso apreço pela diversidade nunca foi de fachada, como agora nos acusam. Vale esclarecer que as alegações não foram oficializadas pelo Ministério Público e tampouco recebemos qualquer prova dos graves fatos veiculados. De todo modo, a Loja Três não se furtará em apurar todas as denúncias, com apoio, inclusive, de uma empresa de compliance para condução do processo com isenção, transparência e rigor. A principal acusada já se afastou voluntariamente de suas atividades na empresa enquanto todos os fatos estiverem sendo apurados.”
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