Prestes a lançar uma série na qual interpreta o pai de uma jovem médica dependente de crack, o ator Fabio Assunção abriu o jogo sobre os memes e polêmicas recentes envolvendo seu vício em drogas e álcool. Ele comentou os temas em entrevista ao jornal ‘O Globo’, publicada no último domingo (18).
Aos 48 anos, o artista disse acreditar que “o vício faz parte dos buracos que a gente tem na alma”. “O vício não é uma questão de caráter, ou de escolha. Não é você aceitar uma propina. É impulsão, compulsividade. Não tem a ver com classe social”, defendeu ele.
E acrescentou: “É uma hipocrisia a sociedade não falar sobre esse tema, uma vez que é uma sociedade que se medica o tempo todo, com produtos lícitos ou ilícitos”.
O ator ainda garantiu ter superado o vício em cocaína, mas que passou a ter problemas com o álcool por considerá-lo um caminho alternativo.
“Já superei essa questão, isso não faz mais parte da minha vida, graças a Deus. Quando esse processo cessou, há quatro, cinco anos, achei que o álcool, aceito socialmente, poderia ser um caminho secundário, alternativo, para poder lidar com algumas coisas sem as consequências de uma droga pesada. Mas é preciso contextualizar isso. Herdei conceitos de que a droga tinha a ver com liberdade, com a subversão de um sistema castrador, era uma outra época”, explicou.
Hoje, Fabio Assunção diz que bebe socialmente, mas não vai além de uma taça de vinho ou dois copos de cerveja. “Se beber mais do que isso, vai me fazer mal. E sinto que preciso falar com as pessoas sobre isso”, declarou.
Os memes e a música sobre Fabio Assunção
Em relação aos memes, Fabio Assunção diz que recebeu conselhos do filho, João, de 16 anos, para ignorar as “piadas” sobre sua condição. No entanto, ao ouvir a música da banda baiana ‘La Furia’, que associava seu nome a “ficar loucão”, ele decidiu reagir. Longe de ter pensado em processar o grupo, Fabio Assunção decidiu usar o mal para o bem.
“Quando rolaram os memes, conversei com meu filho, e ele falou assim: ‘isso é zoeira, não liga não, os caras fazem isso com todo mundo, são divertidos’. Então tudo bem, beleza. No episódio da música, ele falou: ‘disso aqui eu não gostei, achei maldade’. Aí vi o clipe. Realmente, glamourizar a bebida numa festa de jovens, todo mundo dançando muito louco, pensei: que erro de pensamento, isso não é legal”, relembra o ator, que decidiu agir, mas manter o caso bem longe das cortes judiciais.
Sendo assim, Fabio decidiu entrar em contato com a banda. “É claro que teve uso indevido de imagem, difamação, um monte de coisa que poderia entrar num processo, mas o que isso iria transformar? A banda ia continuar não entendendo o que estava fazendo, com as pessoas curtindo a música mais ainda. Só ia criar mais muros, divergência e ódio. Aí fiz uma videoconferência com eles, falei o que achava da música, citei as estatísticas, tudo o que está acontecendo no mundo. Foi uma conversa objetiva. É uma galera de 19, 20 anos, não sabiam o que estavam fazendo”, explicou.
Foi então que surgiu a solução para o caso: “Esta é a nossa formação, a formação do Brasil. A gente mata índio, as pessoas querem andar armadas, então qual é a ofensa? Eles me perguntaram o que eu queria fazer, e eu disse que queria reverter a renda da música para organizações que lidam com dependência. Até o fim do mês vamos ter o fechamento do semestre, e aí vamos divulgar o valor, vai ser dividido entre duas instituições: uma organização de São Paulo — É de Lei — e outra da Bahia, dirigida pelo Dudu Ribeiro — Iniciativa Negra por uma Nova Política para as Drogas (INNPD) —, que cuidam de prevenção, orientação e redução de danos. Resolvemos tudo em 20 minutos. Eles postaram o vídeo, contando. Postei também”.
Para Fabio Assunção, a ação surtiu efeito para além das doações às instituições: “O mais importante disso é que todo mundo meio que se ligou. Não vou tirar onda com o câncer de uma pessoa, com a compulsão de uma pessoa. Isso não é engraçado”.
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