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Facebook derruba rede PCSD, acusada de ‘engajamento falso’ e mantida por brasileiros

Rede era formada por 72 grupos, 50 contas e cinco páginas na rede social; decisão foi tomada após evidências de comércio de seguidores e curtidas em rede social

Após detectar evidências de comércio de seguidores e curtidas, o Facebook derrubou, na manhã desta quarta-feira (15), uma rede de “engajamento falso” formada por 72 grupos, 50 contas e cinco páginas na rede social. Foram deletadas ainda 51 contas no Instagram, que eram relacionadas ao mesmo grupo.

Mantida por brasileiros, a rede foi detectada durante uma investigação sobre a amplificação artificial de engajamento em páginas políticas no México, durante a recente campanha eleitoral naquele país.

Quem descobriu o mercado de compra e venda de engajamento foi o Digital Forensic Research Lab (DFRLab), uma unidade investigativa do Atlantic Council, organização não-governamental norte-americana que municia o Facebook com informações sobre “ameaças de abusos” e “campanhas de desinformação” na rede social.

O jornal Estado de S. Paulo teve acesso a relatório preparado pelo DFRLab em parceria com o Centro Adrienne Arsht para a América Latina. Segundo a investigação, a rede negociava “likes”, seguidores e até páginas em troca de dinheiro. No México, teria se envolvido na promoção de conteúdo político, principalmente contrário ao então candidato Andrés Manuel López Obrador, conhecido como AMLO, que acabou eleito.

“Com o primeiro turno das eleições brasileiras marcado para o dia 7 de outubro, essa rede tinha o potencial de reproduzir em casa as operações mexicanas”, informou a entidade.

O relatório obtido pelo Estado detalha as atividades da rede e os indícios coletados durante a investigação. Não há no texto nenhuma menção a políticos brasileiros. A partir das irregularidades detectadas pelo DFRLab, o Facebook fez suas próprias investigações e mapeou todas as conexões da rede.

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A justificativa para a remoção das páginas e perfis é a violação de políticas de autenticidade e de spam. “Não permitimos o uso de informações enganosas ou imprecisas para conseguir curtidas, seguidores ou compartilhamentos”, afirma um trecho do documento Padrões da Comunidade, que estabelece as regras de uso do Facebook. A plataforma também não permite que usuários usem identidades falsas.

No final de julho, o Facebook desativou no Brasil uma rede de 196 páginas e 87 perfis que teria “o propósito de gerar divisão e espalhar desinformação”, segundo comunicado da empresa. Na operação, foram derrubadas diversas páginas ligadas ao Movimento Brasil Livre (MBL), que reúne ativistas de direita.

Na rede eliminada nesta quarta-feira, não há evidências de ativismo político, ao menos no Brasil. O grupo era coordenado por uma entidade que se apresentava como PCSD, sigla que faz referência a “pegar comunidade sem dono”, uma prática existente na época em que o Orkut era a rede social dominante no País.

Existe uma linha que liga o grupo PCSD a “robôs” que teriam atuado durante a eleição mexicana, segundo o DFRLab. A entidade detectou, por exemplo, que reações a dois posts de conteúdo político inflamatório, em duas páginas distintas de Facebook, “vieram não apenas de contas brasileiras, mas das mesmas contas brasileiras, e reagiram na mesma ordem”.

“Observar tantas reações de contas de outro país sugere que as curtidas não foram resultados de interesse orgânico, mas de alguma forma de transação”, diz o relatório do DFRLab. “Que as contas façam a mesma coisa na mesma ordem é um indício de que eram automatizadas”.

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O DFRLab detectou conexões entre os usuários brasileiros que interagiram no México e uma página brasileira, chamada ‘Frases & Versos’, que acumulava mais de 5,3 milhões de curtidas até recentemente.

Esta página tinha entre seus administradores um usuário identificado como Anderson Leite – era este o elo com a rede PCSD, cujas atividades surpreenderam os investigadores digitais do Atlantic Council. Segundo o relatório da entidade, administradores de páginas se manifestavam “com impressionante franqueza” no grupo RegistroDeTrocasPCSD e descreviam negociações de interações no Facebook, no Twitter e no Instagram “em troca de dinheiro, de pagamentos via Paypal, ou de outras páginas”.

Reproduções de postagens mostram como usuários até publicavam fotos de extratos bancários para provar que haviam realizado vendas e mostrar o quanto haviam recebido.

O Estado detectou na página ‘Frases & Versos’ a existência de seis administradores: Anderson Leite, Erick Silva, Cintia Canário, Paulo Henrique Batista, Anderson Leite (o nome aparece duas vezes, em dois perfis diferentes) e Vitin Silva. Ao analisar o perfil destes usuários, é possível verificar que eles também administram outras páginas com grande número de curtidas, sempre com conteúdos genéricos.

Leite, por exemplo, também administra as páginas ‘Ri Muito’, com 6 milhões de curtidas, ‘Palavra, Pensamento e Atitude’, com 1,2 milhão, ‘Frases e Indiretas’, com 1 milhão, e ‘Palavra Pensamento e Atitude’, com 1,2 milhão.

Nos últimos meses, o Facebook tem adotado medidas para coibir engajamentos falsos ou inchaço artificial de seguidores. Desde junho, por exemplo, qualquer usuário pode verificar se uma página teve o nome alterado e a data de sua criação. O objetivo é evitar, por exemplo, que uma página sobre animais de estimação, depois de conquistar milhares de seguidores, seja vendida para terceiros interessados em difundir determinadas posições políticas.

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Pessoas que administram páginas com grande audiência também terão de passar por um processo de verificação para que possam continuar postando. Essas mudanças começaram pelos Estados Unidos e estão gradualmente sendo estendidas a outros países.

A plataforma informou ter removido, no primeiro trimestre deste ano, 837 milhões de conteúdos por spam e 583 milhões de contas falsas em todo mundo. A empresa está usando inteligência artificial e outras tecnologias para detectar violações de regras de uso mesmo antes de receber denúncias a respeito.

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