Fãs e admiradores foram ao Museu da Imagem e do Som (MIS), no Jardim Europa, na zona sul de São Paulo, para prestar a última homenagem a Ricardo Boechat, na última terça-feira (12). O corpo do jornalista, morto aos 66 anos, vítima de um acidente de helicóptero, começou a ser velado às 23h20 de segunda-feira (11). Ele foi cremado por volta das 16 horas no Cemitério Horto da Paz, em cerimônia fechada.
Ao término do velório, por volta das 13h30 desta terça-feira, familiares e amigos íntimos subiram ao palco do auditório – onde estava o caixão – e fizeram um circulo. Dona Mercedes Carrascal, 92 anos, mãe de Boechat, que estava no MIS desde a noite desta segunda-feira, falou por alguns minutos sobre o filho. Em conversa com a imprensa, Dona Mercedes disse que tem muito orgulho dele.
Às 6h10 da manhã desta terça-feira, Veruska, mulher de Ricardo Boechat, chegou ao velório: “Meu marido que dizia que era ateu, era o que mais seguia o mandamento mais importante: o de amar ao próximo. Era um coração, uma pessoa sem luxo. Tudo o que conquistou era pensando em mim e nos filhos.”
Carlos Boechat, irmão do Boechat, aos prantos, muito emocionado: “É um momento cruel, ele não merecia, o país não merecia, o Brasil não merecia. Fomos criados pela dona Mercedes (mãe) por isso somos fortes”
Por volta da meia-noite, o velório foi aberto ao público. “Não perdia um programa”, comentou a diarista Marly Sudário, de 51 anos, fã que todos os dias o acompanhava na TV e no rádio. Para ela, é o humor de Boechat que vai guardar na memória. “Gostava da risada.”
Entre os presentes, o clima era de consternação. Curiosos também faziam selfies e lives na entrada do MIS. Motoristas, principalmente taxistas, passam em frente ao museu buzinando em homenagem ao Boechat. O produtor de eventos e motorista de aplicativo Arnaldo de Freitas, de 34 anos, fez questão de cumprimentar a mulher de Boechat, Veruska Seibel Boechat, que ele só conhecia de ouvir o jornalista falar ao microfone. “Todo dia, às 7h30, o escutava no rádio. E sentia como se fosse da família”, disse. “Ele sentia como a população. E eu gostava de como trazia para a conversa a família dele.”
O taxista Cláudio Fernandes disse que Boechat era companheiro dele pelas manhãs. “Eu chegava até a conversar com ele na minha cabeça, quando fazia as corridas”. A dona de casa Tereza Mercês Souza estava indignada com a notícia da morte do jornalista: “Eu não acredito no que aconteceu. Não me conformo. Era uma fã diária. Estou arrasada. Não consigo mais ligar o rádio”.
Com quase 50 anos de carreira no jornalismo e uma coleção de prêmios no currículo, Boechat era atualmente apresentador do Jornal da Band e âncora da BandNews FM. “Era um grande jornalista e um amigo de infância. Era divertido, um humorista”, comentou o jornalista Augusto Nunes. Os dois foram contemporâneos no jornal O Estado de S. Paulo e conviveram diretamente. “Sempre foi muito generoso, ajudou tanta gente”, disse.
Presidente do Grupo Bandeirantes de Comunicação, João Carlos Saad também compareceu ao velório. “Tinha uma graça e um jeito de fazer jornalismo que não vai ter outro”, disse sobre Boechat.
Ao ser perguntado sobre as lições que o jornalista deixou, acrescentou: “Ensinou a ser duro sem perder a ironia e o humor. Quando apurar, vamos encontrar um fio condutor dessa tragédia (e as outras recentes)”.
O diretor de jornalismo da Band, Fernando Mitre disse que soube da morte durante a reunião de pauta da emissora. Àquela altura, já se sabia sobre a queda do helicóptero no Rodoanel, mas a identidade das vítimas era desconhecida. Ele demorou a acreditar. “Conversava com ele todos os dias durante 12 anos. Era uma pessoa espetacular”, afirmou. “Perdemos o Boechat. Ontem estava conosco. Hoje não está mais.”
O prefeito Bruno Covas (PSDB) esteve no velório de Ricardo Boechat. “Venho aqui hoje prestar não só a minha homenagem, mas a de toda a população da cidade de São Paulo, que está entristecida com tudo que aconteceu. Boechat era uma grande referência não apenas para o jornalismo, mas para todos nós. É uma perda para o jornalismo, uma perda para a democracia. Sempre que ele falava, todo mundo parava para prestar atenção. Ele botava o dedo na ferida, apontava os problemas a serem corrigidos e ajudava o país a ser passado a limpo”, afirmou.
Covas disse ainda que vai conversar com a família de Boechat nos próximos dias e que a Prefeitura vai buscar um espaço na cidade para homenageá-lo. “Vamos buscar um espaço para homenageá-lo na cidade de São Paulo, para que ele seja sempre eternizado, para que possamos mostrar o exemplo que ele era para as futuras gerações.”
Envolto em coroas de flores, o caixão foi posto em cima do palco de um auditório do MIS. Ao passar, fãs tocavam a madeira, faziam sinal de despedida com as mãos e alguns até tiravam foto. Veruska, com quem Boechat teve dois filhos, ficou sentada em uma cadeira nas primeiras fileiras. Mais cedo, havia comentado que o marido era o “ateu que mais praticava o bem” e disse que a ficha ainda não caiu. Também agradeceu o apoio e as homenagens.
Por lá, também passaram o empresário Abílio Diniz e o apresentador Otávio Mesquita. O governador de São Paulo, João Doria (PSDB), chegou às 23h30. “O jornalismo perde uma referência. (Ele) conduziu sem trabalho com grandeza”, comentou. “Jogamos bola juntos várias vezes. Era uma figura fraterna, adorável. E tinha um sentimento de justiça muito grande”, disse.
O jornalista José Simão, parceiro de Boechat no programa, muito consternado ao comparecer ao velório, disse: “O day after é pior. Hoje eu acordei e falei: cadê o Boechat? Nossa relação era mais que profissional. Era de amor. Estou sentindo uma falta brutal dele”.
Sheila Magalhães, diretora da rádio BandNews FM disse que a morte de Boechat foi a pior notícia: “ Foi a notícia mais difícil da minha vida. Ele conseguiu inovar e trazer para o microfone gente que não tinha voz”.
Colega de emissora, o apresentador do programa MasterChef Érik Jacquin tinha os olhos cheios de lágrimas ao lembrar do jornalista. “Todo dia ele estava lá, de manhã, à noite. Dancei com ele o carnaval de Salvador. Tenho a impressão de que todo mundo o amava.”
Fernando Rocha, apresentador do programa Bem-Estar da Rede Globo disse que o jornalista era como se fosse da família : “Boechat era um companheiro de todas as manhãs . Parecia um primo, um irmão. A ficha não caiu. O Brasil precisa de comandantes como boechat. Alguém que era tão necessário nesse momento pernicioso do mundo. A ficha não caiu”.
O jornalista Matinas Suzuki também compareceu nesta manhã para homenagear Boechat: “Eu queria agradecer ao Boechat por tudo o que ele fez para o País. Ele sempre foi firme sem passar do tom. O sucesso dele tanto no jornalismo impresso como na rádio e na televisão se deu por ele ser uma pessoa extremamente verdadeira. Ele passava credibilidade no que dizia”.
O publicitário Nizan Guanaes, sócio e co-fundador do Grupo ABC de Comunicação, também prestou homenagem ao jornalista: “Boechat era a prova de que o jornalismo vive, que o jornalismo está vivo. Por isso, estamos aqui pra dizer que o Boechat também continuará vivo”.
O apresentador Amaury Jr ao comparecer ao velório disse que Boechat era muito corajoso : “ entre as coisas incríveis que Boechat fez, uma delas foi a de desmistificar a depressão. Quando ele falou sobre a dele, ajudou muita gente. Eu também tive, mas não com a coragem dele para torná-la pública”.
O vereador Eduardo Suplicy (PT-SP) lamentou profundamente a morte do jornalista: ” Boechat era uma voz crítica às ações do PT, mas sempre nos tratou com respeito e carinho. Ele também tinha uma postura muito correta e ética ao mediar debates. A esposa dele me lembrou que temos coisas em comum, como frequentar o achados e perdidos do aeroporto”.
Sérgio Groismann, apresentador do Altas Horas, da TV Globo, também compareceu ao velório para prestar homenagens a Ricardo Boechat: “Ele encontrou no jornalismo uma forma de expressar a vontade popular. A lembrança é a diária, da sua voz e postura como âncora”.
A jornalista Ana Paula Padrão, apresentadora do Masterchef na Band, prestou homenagem ao companheiro de emissora: “Em um momento de tantas fake news, Boechat se fazia muito necessário, com sua força e compromisso com a verdade. Ele também conseguiu traçar essa linha tênue entre o jornalista que ri, que chora e se emociona com a precisão e a responsabilidade na hora de dar uma informação “.
O ministro-chefe do Gabinete de Segurança Institucional da Presidência da República (GSI), Augusto Heleno, compareceu ao velório para representar o presidente Jair Bolsonaro, que está internado no Hospital Albert Einstein: ” Boechat era um ícone do jornalismo, uma figura exponencial, um jornalista que sempre se caracterizou por uma enorme coerência, um homem altamente articulado que se interessava por se aprofundar nos assuntos, falava sobre qualquer assunto com desenvoltura. Eu vim representar o presidente, justamente para mostrar o valor de um jornalista desse nível para a imprensa brasileira e para o governo, porque afinal de contas, ele é um formador de opinião importantíssimo, sempre foi amigo do Bolsonaro, claro que muitas coisas discordavam, mas discordavam com grandeza, com todo aquele viés democrático que a imprensa exige nesse dia a dia, nesse trato entre político e jornalista”.
Milton Neves lembrou como o Boechat era um homem forte em suas posições, mas sempre sorridente.”Nunca vi alguém tão forte e bravo em suas opiniões, mas sorridente no trato pessoal”.
O apresentador Boris Casoy lamentou a morte do colega: “Quem conhecia sabe. Não tem palavras para descrevê-lo. Era uma pessoa muito divertida, uma fonte de inspiração”.
André Luiz Costa, diretor de jornalismo da TV Bandeirantes, disse que Boechat fazia um jornalismo para o público, o ouvinte, o espectadores: “Não para seus pares ou para as autoridades. Essa é a lição que não podemos esquecer”.
O apresentador da Rádio CBN, Milton Jung, prestou homenagem ao colega : “A comoção é do tamanho da pessoa e do jornalismo que ele fazia. Eu aprendi muito com ele. Não o via como concorrente”.
Roberto Cabrini, apresentador do Conexão Repórter do SBT, disse que Boechat era um âncora com a perspectiva do repórter: “Fundamentalmente ele era um grande repórter que soube se reinventar no rádio”.
O jornalista da Band, Fábio Pannunzio, ao comparecer ao velório de Boechat disse que o colega era um guia e uma inspiração para todos nós. “Foi muito emocionante ver ontem o buzinaço dos taxistas, gente emocionada na internet… essa é uma parte do reconhecimento que ele efetivamente merecia”.
Taxistas homenageiam Boechat
Um grupo de taxistas que conhecia Boechat se juntou para prestar uma homenagem ao jornalista na madrugada desta terça. Eles colocaram duas placas de táxi sobre o caixão e elogiaram o tratamento dado por Boechat aos motoristas.
“Era uma pessoa muito boa, amável, que conhecia nossas dificuldades”, disse Mauro Simões, de 56 anos, que transportou Boechat algumas vezes do trabalho, no Morumbi, para casa. No caminho, conversavam de tudo um pouco. “Falávamos sobre o dia a dia do Brasil”, lembra.
O vereador Adilson Amadeu (PTB), ligado aos taxistas, prestou homenagem ao jornalista. Ele levou um livro com a história do táxi cuja a capa tem uma foto de Boechat . “Boechat era mais que um jornalista, era um general. Que era amigo do táxi, mas puxava a orelha do taxista quando era necessário”, disse.
Rádio Bandnews substitui programação jornalística por homenagem a Boechat
A rádio BandNews substituiu a programação jornalística desta manhã de terça-feira para prestar mais uma homenagem a Ricardo Boechat. Às 7h30, horário em que o jornalista entrava diariamente no ar, a vinheta tocou, e em seguida uma gravação da voz de Boechat anunciava: “7 horas e 30 minutos, eu sou Ricardo Boechat”. Na sequência, o programa contou com uma série de depoimentos de jornalistas e ouvintes da rádio que lamentaram a morte de Boechat.
Com a voz embargada, Eduardo Barão, responsável por comandar o programa, declarou que a cadeira que Boechat usava diariamente não será mais utilizada.
“Essa cadeira vai ser aposentada. Ninguém nunca mais vai sentar nessa cadeira. É dele para sempre”, afirmou o apresentador, que não conseguiu conter o choro.
Barão, muito emocionado disse que os colegas vão tentar cumprir a missão deixada pelo jornalista: “Fica uma missão e a gente vai cumprir. Como você falava e pedi todos os dias: toca o barco. A gente vai tentar, Boechat”.
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