Rubens Barrichello comemora uma nova vida. O piloto de 45 anos passou 13 dias internado no começo do ano depois de um problema em um vaso sanguíneo na cabeça e considera ter renascido ao ser curado.
Em entrevista ao jornal ‘O Estado de S. Paulo’ em Interlagos, onde se prepara para a corrida de abertura da Stock Car, neste sábado, Rubinho admite emoção com o retorno e conta ter vivido o maior susto da sua vida.
Como está de saúde?
“Eu estou ótimo. Tive uma baita dor na nuca e fomos ao hospital. Entre as possibilidades do que era, assustava bastante. Mas no primeiro exame se viu que eu tive um problema na veia, mas ela estava fechada e que eu precisava de repouso. Foram 13 dias internado que me fizeram refletir muito. Fazia tempo que eu não conseguia esvaziar a minha cabeça. Muitas vezes a minha mulher me acordou de manhã e falou: ‘Liga para o seu engenheiro porque você falou com ele a noite inteira’. Minha cabeça não para. É um motor que fica ligado 24 horas. Aprendi que preciso dar tempo para mim. ”
E como foi a volta?
“O dia em que sentei no kart, saí mudando marcha e vi que a sensação era igual, eu chorei muito. Chorei hoje entrando no autódromo também, de emoção. O medo era de não poder fazer mais aquilo que mais amo na vida. Poder disputar uma prova dessa, com público, me deixa muito feliz.”
Mas o que causou o problema?
“Estresse é uma das parciais, com certeza. Não quero entrar no detalhe, para não virar um alarde total. O mais importante é que o médico falou que a chance de eu ter isso de novo é igual à de toda a população. Não é por conta do meu problema que eu tenho mais probabilidade de voltar a ter. Então, a veia se fechou de uma forma perfeita. Realmente estou zerado.”
Então você se sentiu como em um renascimento?
“Eu estou tendo a chance de um recomeço. Vou te falar que andei bem de kart quando treinei. De tudo isso, tem uma lição enorme, de ser agradecido por tudo o que aconteceu. Sou parte de uma porcentagem muito pequena, porque saí ileso. Pouquíssimos tiveram a chance de ter esse renascimento. Alguns acabam por morrer, outros têm sequela.”
Você considera isso um susto maior do que qualquer outro o acidente que teve na carreira?
“Foi o maior susto da minha vida para mim. Eu sou um cara atleta, que corre todo dia, que come direito, então você não espera que isso possa acontecer.”
Sem piloto brasileiro, acha que o público terá interesse em acompanhar a Fórmula 1?
“A gente precisa do apoio. Se a TV continuar passando as sessões, a gente tem um número menor do que tínhamos no passado, mas sempre terá quem gosta. A Fórmula 1, quer queira ou quer não, até podemos falar mal dela, mas no final sempre tem alguma coisa interessante para ver. Acredito que se a gente não tiver piloto brasileiro pelo segundo ou terceiro ano seguido, aí sim pode ser que tenha uma balançada no interesse.”
Por que o Brasil não tem mais pilotos?
“A fonte secou por uma situação do aprendizado do Brasil, das nossas categorias, de tudo aquilo que a gente precisa analisar, porque é o momento de rever a situação. O menino cresce, se for dar certo, ele vai fazer o kart fora do Brasil. Eu ainda pude fazer a Fórmula Ford aqui, e isso me deu um ensino muito grande. A situação financeira do Brasil e o apoio precisam ser revistos. Não é hora de apontar o dedo e falar em culpados. É importante dar um passo para frente. A gente precisa daqui a pouco tempo ter um automobilismo mais eficiente no Brasil.”
Pensa em ser dirigente e ajudar nessa situação?
“Não. Eu gosto mesmo é de guiar. Sou dirigente dos meus dois filhos, mas ainda assim eu sempre pego o kart deles para me ocupar um pouco. Eu sou muito ativo ainda, e graças a Deus isso me mantém jovem e apaixonado. Não tem como agradecer de ter sido liberado para desfrutar da minha paixão na vida. Adoro ver meus amigos me chamando de doido e falando que ninguém gosta de automobilismo mais do que eu.”
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