Maysa Vilela
Três jovens estudantes do curso de Biomedicina de uma universidade particular viralizaram recentemente ao humilhar uma colega de classe simplesmente pelo fato de ela ter 40 anos e, segundo elas, ser “velha demais” para estar fazendo faculdade.
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O caso aconteceu na Unisagrado, instituição particular de Bauru (SP). O vídeo gravado pelas três estudantes viralizou e foi amplamente criticado nas redes sociais nesta sexta (10). Nas imagens, elas aparecem debochando de uma colega de classe que tem 40 anos.
“Gente, quiz do dia: como ‘desmatricula’ um colega de sala?“, diz uma das estudantes no vídeo.
“Mano, ela tem 40 anos já. Era para estar aposentada“, comentou uma delas. “Realmente”, concorda uma terceira.
“Gente, 40 anos não pode mais fazer faculdade. Eu tenho essa opinião”, declara uma das jovens. A outra acrescenta que a colega mais velha “não sabe o que é Google”. A amiga debocha: “Ela acha que Google é a professora“.
Diante da publicação, a sobrinha da vítima fez uma postagem na internet dizendo que a tia está estudando agora, pois nunca teve oportunidade de fazer uma faculdade.
“Minha tia, de 40 anos, sempre batalhou trabalhando sem parar desde pequena com as irmãs, para ajudar a minha avó e cuidar dela. Ela sempre teve o sonho de estudar e nunca teve oportunidade“, disse a jovem.
“Hoje, ela conseguiu entrar em um curso que ela sempre quis e estava muito feliz e animada para começar as aulas, e daí surgem três meninas que só vivem na própria bolha, gravando vídeo zombando pela minha tia ser a mais velha da turma“, acrescentou ela.
A sobrinha da estudante também cobra um posicionamento da universidade onde as humilhações aconteceram.
“Que tipo de tratativa vocês vão dar para essas alunas de vocês? Que tipo de profissional essas meninas vão ser? Fico indignada”, diz a sobrinha da aluna atacada.
Jovens humilham colega mais velha
Veja o vídeo das estudantes humilhando a colega de sala que é mais velha:
Minha mãe com 50 anos vai entrar na faculdade esse ano. Por isso eu fico PUTA com um bgl desse, pq é uma coisa que poderia ter acontecido com ela, e nesse caso eu não pensaria duas vezes antes de amassar essas mina q acham que todo mundo tem a mesma oportunidade na vida pic.twitter.com/LavQLMocrL
— Ju Porto (@aju_porto) March 10, 2023
Depois de toda a repercussão, as três alunas se dizem arrependidas dos comentários que fizeram sobre a colega de classe de 40 anos. Segundo elas, tudo não passou de uma “brincadeira de mau gosto”.
“Nunca foi na intenção de dizer que pessoas de mais idade não podem adquirir uma graduação, pois não tenho esse pensamento. Foi uma fala imprudente e infeliz que tomou uma proporção que não imaginávamos”, afirmaram as estudantes.
Elas acrescentaram que a faculdade orientou as estudantes e “deu a oportunidade de recomeçar e amadurecer, mudar nossos pensamentos e perceber que comentários assim, sendo brincadeira ou não, são levados muito a sério”.
A universidade se pronunciou através de um comunicado no Instagram, mas sem citar o caso diretamente.
Primeiro, a Unisagrado disse que não compactua com qualquer tipo de discriminação e que acredita que “todos devem ter acesso à educação de qualidade, desde pequenos até quando cada um quiser, porque educação é isso: autonomia”.
O comunicado diz ainda que “as oportunidades não são iguais para todo mundo em todos os momentos da vida. Sabemos, por exemplo, que os pais, muitas vezes, abrem mão da sua formação para oferecer as melhores oportunidades para seus filhos e, somente depois, optam por se profissionalizarem”.
Nos comentários, internautas cobraram uma ação mais efetiva da instituição diante do ocorrido.
“Não vai ter uma retratação das queridas? Uma ação disciplinar? Por acho que só um posicionamento não haverá mudanças!!!”, questionou uma mulher.
“Queremos uma ação disciplinar para que fiquem TODOS cientes que esse tipo de atitude é totalmente descabível e não venha se repetir nunca mais”, cobrou outra pessoa.
Segundo a Antropóloga e Professora Mirian Goldenberg em um texto publicado na ‘Folha de São Paulo’, em mais de 50% dos casos os agressores são os próprios filhos, em 10% dos casos são os netos, além dos cônjuges, genros e noras.
Ela faz questão de lembrar que o jovem de hoje é o velho de amanhã.
“Lutar contra a velhofobia é lutar pela nossa própria velhice e, principalmente, lutar por uma sociedade com mais saúde, dignidade e autonomia para os nossos filhos e netos, os velhos de amanhã”, disse Mirian Goldenberg.
O que é velhofobia?
Velhofobia é um tipo de preconceito baseado na idade avançada da pessoa. Discursos de ódio, intolerância e preconceito através de piadas e de “brincadeiras de mau gosto” feitas contra pessoas mais velhas.
“Velho é ridículo, velho é teimoso, velho é um fardo, velho é inútil, descartável e incapaz“, são alguns dos discursos muito difundidos pelos jovens.
Outro nome ao mesmo problema é o etarismo – discriminação e ao preconceito relacionado com a idade de uma pessoa.
São piadas e outras atitudes que geram exclusão da vítima por conta da idade dela. Isso pode resultar em violência verbal, física ou psicológica.
Veja a publicação feita pela universidade onde o caso de discriminação com a aluna “mais velha” aconteceu:
Ver essa foto no Instagram
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