Redação
Marcius Melhem foi acusado pela humorista Dani Calabresa de assédio sexual em dezembro de 2019.
A partir da coragem dela de expor os abusos cometidos pelo chefe do Departamento de Humor da TV Globo (na ocasião), várias outras mulheres também decidiram falar à Justiça sobre o comportamento tóxico e criminoso dele.
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Nesta segunda-feira (14), a revista ‘Piauí’ publicou uma matéria que apresenta novas acusações contra Marcius Melhem.
O conteúdo está pronto desde o dia 12 de agosto de 2021, mas o texto foi censurado por 172 dias após decisão da juíza a pedido da defesa de Melhem por suposta violação do sigilo do processo judicial.
Entretanto, no dia 31 de janeiro de 2022, o ministro do Supremo Tribunal Federal Gilmar Mendes derrubou a medida, pois considera que a censura prévia viola a Constituição que garante liberdade de imprensa.
Finalmente publicada nesta segunda (14), a matéria cita detalhes dos assédios supostamente cometidos por ele entre os anos de 2010 e 2019.
O repórter João Batista Jr. teve acesso ao processo que corre na Justiça e relatórios da TV Globo com descrições de denúncias de funcionárias contra o ator e diretor.
Sérias acusações
Dentre as novas acusações contra Marcius Melhem, vários abusos aconteciam em um flat na Barra da Tijuca (RJ) que a TV Globo alugava e mantinha como redação do núcleo de humor.
Melhem recebia atrizes de “cuecas, com as calças abaixadas ou sem calças” e chegou a dizer a uma novata da emissora que merecia receber um boquete por tê-la contratado para a Globo.
Um fato em especial aconteceu no ano de 2014 no flat de uma atriz, que não teve a identidade revelada. Melhem pediu para tomar banho lá e ela, com vergonha de negar o favor, pois ele era seu chefe, acabou aceitando.
Ele foi direto para o banheiro e, momentos depois, teria surgido com uma toalha enrolada na cintura e, com o pênis ereto, atacando a atriz.
“Diante da resistência dela, Melhem soltou-a, vestiu-se e encaminhou-se para a suíte onde se encontrava o elenco do ‘Tá no Ar’. Sozinha em seu flat, a atriz teve uma crise de choro, mas se recompôs e manteve o compromisso: foi à festa dos colegas de equipe“, diz um trecho da matéria da revista ‘Piauí’.
Frases como “Você faz parte das minhas fantasias sexuais“ ou “Como você está gostosa com essa roupa“ ou até xingamentos como “piranha“ eram ditas por Marcius Melhem com frequência às subordinadas dele no Departamento de Humor da Globo.
Segundo as 8 mulheres que o denunciaram, Melhem falava sobre sexo constantemente, insinuava o desejo de ter relação sexual com elas e, por vezes, chegou a colocar a mão delas no órgão sexual dele.
Ainda de acordo com a matéria da ‘Piauí’, mais de uma mulher relatou ter sido prejudicada profissionalmente na Globo simplesmente por resistir às investidas de Marcius Melhem.
Em sua defesa, ele nega todas as acusações e diz, em depoimentos à Justiça, que era tudo “brincadeira“.
A nota enviada ao jornal ‘Folha de São Paulo’ pela defesa do ator ressalta que “as brincadeiras ocorriam dos dois lados” e que “a atriz que o acusa de ‘exigir um boquete’, por exemplo, foi sua namorada por mais de um ano e ambos trocavam mensagens picantes da intimidade típica de casais”.
O ator afirmou, em entrevista em 2020, que teve a vida destruída pelas acusações de assédio que recebeu, que enfrenta muitas ameaças e tem medo de sair na rua.
“Eu nem queria sair de casa, porque estou sendo ameaçado de morte e de espancamento“, disse ele em entrevista a Roberto Cabrini na época.
O humorista foi demitido da TV Globo em 2020 devido ao comportamento inadequado com suas subordinadas.
Entretanto, a emissora comunicou que a saída do ator aconteceu “em comum acordo“ e, ainda, elogiou Melhem por sua “importante contribuição para a renovação do humor nas diversas plataformas da empresa”.
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Defesa de Marcius Melhem
Leia a nota enviada pela defesa de Marcius Melhem ao jornal ‘Folha de São Paulo’, na íntegra:
“Em mais uma edição completamente parcial, a revista Piauí disse ter tido acesso à investigação que corre em segredo de Justiça, mas publica apenas parte do processo, distorce a realidade e omite fatos e provas da defesa de Marcius Melhem. Aos fatos:
A cena do flat da atriz não aconteceu da forma descrita pela Piauí. A revista omite que a atriz seguiu amiga de Marcius por muitos anos após o episódio, convidando seu suposto abusador para seu casamento e para ir à sua casa conhecer sua filha recém-nascida, para citar dois exemplos.
A relação só estremeceu cinco anos depois, quando ela não foi convidada para o programa ‘Fora de Hora’. A troca de mensagens entre ambos nesse período é a prova de que não houve nada de traumático na relação entre eles, até que ela fosse recrutada.
Quando descreve as brincadeiras que ocorriam no ambiente do humor, algumas em tom sexual, a Piauí não revela o farto material probatório apresentado pela defesa de Marcius Melhem de que as brincadeiras ocorriam dos dois lados. A atriz que o acusa de ‘exigir um boquete’, por exemplo, foi sua namorada por mais de um ano e ambos trocavam mensagens picantes da intimidade típica de casais.
Há farto material comprobatório do namoro, cujo término não foi bem recebido pela atriz conforme dezenas de áudios e mensagens anexados ao processo. Até pouquíssimo tempo antes da denúncia de Dani Calabresa esta atriz ainda estava inconformada de ser apenas amiga. Depois assumiu a frente da vingança.
Nos emails internos da TV Globo, a própria Piauí afirma que como resultado do compliance Melhem não foi demitido, mas sim afastado das suas funções de gestor. Em seguida afirma que foi demitido. Uma narrativa errática e confusa.
A Piauí, que tem acesso a todo o material que está sob sigilo, estranhamente disse não ter acesso a anexos do email do advogado Helcio Alves Coelho, membro do departamento de compliance do Grupo Globo, onde estariam as conclusões do compliance. Tivesse a Globo apurado que houve assédio sexual teria feito homenagens a Melhem em sua saída?
A Piauí chega a citar como testemunha de acusação um ator que em depoimento desmentiu a Piauí do começo ao fim.
Esses são apenas alguns exemplos de mais um festival de absurdos da Piauí, que, no papel de assessoria de comunicação da acusação, vai tentar provar que não está errada desde o início. Não dará certo. Por respeito à Justiça, Melhem não pode expor suas provas nesse momento.
Parece que o segredo só vale para Melhem, mas não será para sempre. Quando a Justiça autorizar, a opinião pública irá conhecer toda a verdade, sem versões parciais e distorcidas. E muitos irão se chocar com o que está por trás das acusações na Justiça e dos vazamentos fora dela”.
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