Maysa Vilela
A polícia está investigando uma situação suspeita que aconteceu em agosto de 2021. Um homem morreu logo após fazer uma tatuagem em um estúdio na cidade de Paranaguá, no Paraná. De acordo com um laudo preliminar, ele pode ter sofrido intoxicação por anestésico.
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O vendedor David Luiz Porto Santos, de 33 anos, foi até o estúdio para fazer sua tatuagem no dia 27 de agosto de 2021.
Pouco tempo depois de ser tatuado, ele começou a passar mal e foi levado às pressas para o hospital, mas não resistiu e faleceu.
Durante a sessão de tatuagem, a vítima apresentou diversos sintomas, como pressão baixa, palidez, aumento dos batimentos cardíacos, fala confusa, dilatação das veias, perda de consciência e convulsão. Os sintomas surgiram ainda no estúdio.
Segundo a polícia, o estúdio de tatuagem está fechado desde o incidente e os responsáveis foram convocados para prestar depoimento.
O tatuador José Manoel Vieira de Almeida é investigado e as autoridades tentam esclarecer as circunstâncias da morte do homem.
Em depoimento, o tatuador José Manoel declarou que a tatuagem era grande, composta por vários desenhos e que praticamente cobria todo o braço esquerdo do cliente.
O delegado Wallace de Oliveira Brito, do 6º Distrito da Polícia Civil do Paraná, convocou o tatuador a prestar um segundo depoimento acerca do ocorrido, que ocorreu nesta quinta-feira (16).
No primeiro depoimento, o tatuador disse ter aplicado a substância anestésica após a solicitação de David.
Morreu após a tatuagem
Monike Caroline de Freitas, esposa da vítima, nega que isso seja verdade. Ela prestou depoimento à polícia e relatou que seu marido apresentou uma reação quase que instantânea à lidocaína, anestésico utilizado pelo tatuador.
O profissional utilizou a substância tópica em spray, com dose de 20%, diretamente sobre a pele de David. Segundo a investigação, o medicamento estava no prazo de validade quando foi usado.
“Na hora que tava limpando o excesso [do medicamento], meu marido perguntou o que ele tinha passado, e ele [tatuador] falou que era um anestésico. Depois, ele começou a passar mal. O tatuador falou: ‘Dá sal pra ele'”.
“O outro rapaz que tava junto deu o sal, e coloquei debaixo da língua do meu esposo. Meu marido só fazia assim [balançava a cabeça] que não tava bem. Botei a mão no peito dele e falei pro tatuador que ele tava com o peito acelerado“, declarou Monike.
Os advogados Graciele Queiroz e Jefferson Silva, que representam o tatuador, afirmaram que a aplicação do medicamento não apresentou nenhuma irregularidade e ressaltaram que José Manoel possui sete anos de experiência no ramo.
Conforme indicado pelo laudo do IML, a intoxicação por anestésico local é influenciada por diversos fatores, incluindo a velocidade com que o medicamento é aplicado.
“A lidocaína pode ser absorvida logo após a aplicação e seu grau de absorção e porcentagem da dose absorvida dependem da dose total e da concentração administrada, do local de aplicação e do tempo de exposição ao anestésico. A toxidade sistêmica está associada a doses elevadas da medicação“, diz laudo do IML.
De acordo com a resolução do Conselho Federal de Medicina (CFM), a aplicação de anestésicos deve ser realizada apenas por médicos. Afinal, a prática de anestesia por leigos “não só é proibida, como também pode causar sequelas”.
“Neste passo, tal procedimento caracteriza-se como exercício ilegal da medicina, devendo, os que assim procedem, ser denunciados à autoridade policial para que sejam tomadas as medidas cabíveis”, diz o parecer técnico do CRM-PR.
O delegado responsável pelo caso afirmou que se trata de uma situação sem precedentes. Segundo ele, pelas circunstâncias, o tatuador violou um dever de cuidado e, ao fazer isso, assumiu um risco.
As investigações seguem em curso. O delegado Wallace Brito esclareceu que, caso seja indiciado, o tatuador poderá responder por homicídio culposo, que é caracterizado pela ausência de intenção de matar.
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