Uma mulher de 24 anos viveu um pesadelo nos últimos meses após ir para um hospital do Rio de Janeiro para parir e acabar saindo, meses depois, com uma mão amputada.
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A jovem, que preferiu não se identificar, já era mãe de dois meninos, um de 8 e outro de 4 anos, quando foi dar à luz ao terceiro filho em outubro de 2022.
Acontece que, após o parto normal, ela sofreu uma hemorragia e várias outras complicações. Resultado? A mulher deixou o hospital com a mão e punho esquerdos amputados.
“Para mim, está sendo um recomeço. Porque eu estou me refazendo. Eu tive a minha mão por 24 anos. Fui apenas ganhar um bebê e voltar sem ela, para mim, foi um pouco estranho. Para qualquer pessoa”, contou ela ao portal ‘G1’.
Com 39 semanas de gestação, a grávida foi até o Hospital da Mulher Intermédica de Jacarepaguá, na Zona Oeste do Rio de Janeiro, em trabalho de parto no dia 9 de outubro. O bebê nasceu no dia seguinte pesando um pouco mais de 3 kg.
Porém, a mãe sofreu uma hemorragia depois do parto. Os médicos, então, criaram um acesso venoso na mão dela para passar a medicação. Então, ela começou a sentir muita dor e incômodo no membro.
Segundo a família, a mão da jovem foi ficando roxa e inchada e o quadro de saúde dela se complicando.
Em meio a essa situação, ela foi transferida para outro hospital da mesma rede, em São Gonçalo, na Região Metropolitana do Rio de Janeiro.
“A mão da minha filha estava ficando roxa e muito inchada. E aí perguntei o que iam fazer com aquilo. A única coisa que estavam fazendo é uma bolsa com gel, botava no micro-ondas, esquentava, e dava para ela. E a minha filha reclamando que estava queimando”, disse Kelly Cristina dos Santos, mãe da paciente, em entrevista ao ‘G1’.
Três dias após o parto, os médicos informaram a mãe da mulher que teriam que amputar a mão dela.
“A porcentagem seria mínima dela sobreviver. Seria 95% de não ter a mão, deles terem que amputar, e de 5% de reverter o caso. Mas, infelizmente, esses 95% venceram”, disse a mãe da jovem ao ‘G1’.
A mulher passou 17 dias internada, longe do filho, e depois precisou passar pela amputação. Ela ainda não entende exatamente o que aconteceu e conta com uma advogada para ajudar a esclarecer o caso na Justiça.
“Até hoje, é um mistério. Ela entrou lá e saiu sem uma parte do corpo, sem a mão”, contou a mãe.
Ela desabafou em entrevista sobre as consequências que o procedimento trouxe em sua vida.
“Eu perdi a oportunidade de ver meu filho nos primeiros dias. De amamentar. Meu peito ficou produzindo leite por três dias, mas é como se eu tivesse tido um aborto”, disse a paciente.
Além da mão amputada, situação ainda piora
Cerca de 45 dias depois do parto, a jovem que já tinha tido a mão amputada, precisou passar por um procedimento de curetagem por sucção – raspagem da cavidade uterina.
Tudo porque o hospital teria esquecido algum material dentro dela. A cirurgia para retirar material aconteceu no final de novembro. O hospital lamentou o ocorrido e disse que está apurando o caso.
Veja o braço da mulher, que teve a mão amputada em hospital do Rio de Janeiro:
A mãe da paciente, Kelly Cristina dos Santos, explicou um pouco melhor sobre o pesadelo que ela enfrentou no hospital.
“Cerca de 45 dias depois do parto, minha filha teve um sangramento, uma hemorragia. Foi para o hospital, e lá disseram que ela teria que se submeter a uma nova cirurgia porque esqueceram alguma coisa dentro dela, mas não souberam dizer o que era porque não tinham um exame de imagem para analisar antes. Foram direto fazer a curetagem por sucção, e ela teve que ficar mais dois dias internadas”, conta a mãe da mulher.
Depois de ter tido a mão amputada, ela contou: “Eu nunca tive problema de circulação, nem inchar na gravidez eu inchei, meu pré-natal foi todo normal. Eles roubaram a minha vida, a oportunidade de ver o meu filho nos primeiros dias, de amamentar”, disse a jovem ao ‘G1’.
“Tem um mês que tive coragem de olhar para o meu braço sem mão. Não gosto de olhar. Ainda não me aceito nessa nova versão”, diz.
A advogada dela entrou na Justiça contra a Unidade de Saúde em que o possível erro médico aconteceu.
“Isso foi uma sequência de erros que devem ser todos apurados, nas esferas criminal, administrativo e cível. Vamos pedir as reparações de que tem a responsabilidade civil: dano estético, dano moral e material. E vamos fazer um levantamento da parte da imprudência, negligência e imperícia, que é a parte criminal”, destacou a advogada Monalisa Gagno.
Agora a mulher está se adaptando à nova vida sem uma das mãos. “Não posso dar banho no meu neném. Não pude amamentar o meu neném. Tem certas coisas que eu não posso fazer com ele, que eu já tinha feito com os meus dois outros filhos”, disse a jovem ao ‘G1’.
O Hospital da Mulher Intermédica de Jacarepaguá emitiu uma nota afirmando que se solidariza com a vítima e lamenta o ocorrido.
Informaram ainda que vão apurar o caso e os procedimentos adotados durante o atendimento da jovem. Por fim, disseram estar à disposição para quaisquer esclarecimentos.
O caso foi registrado na 41ªDP (Tanque) como lesão corporal culposa. A Polícia Civil informou que está ouvindo testemunhas e que pediu os documentos médicos para auxiliar nas investigações.
Após 3 meses da tragédia, a jovem disse que não quer sair de casa. “Não gosto de olhar meu braço sem mão. Ainda não me aceito nessa nova versão. Também não saio de casa, tenho vergonha que olhem pra mim. Acho que está todo mundo me olhando”, disse,
A vítima falou também sobre como será o futuro com sua nova condição.
“Tem certas coisas que eu não posso fazer com ele, que eu já tinha feito com os meus dois outros filhos. Também não sei como vai ficar no meu trabalho quando eu voltar. Era fiscal em um mercado e precisava das duas mãos para exercer a função”, contou.
“Mexeu com a vida de todo mundo. A gente teve que se readaptar para poder ajudá-la, já que não consegue fazer muita coisa sozinha”, disse a mãe da jovem.
Veja uma imagem dela com o filho:
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