Uma mulher procurou a Justiça na cidade de São Paulo, processou a família que a criou e ganhou o direito a uma indenização de R$ 1 milhão. Ela foi submetida a situação análoga à escravidão durante os quase 30 anos em que viveu na casa. A triste história de Solange foi exibida pelo programa ‘Fantástico’, na TV Globo, no último domingo (30).
O advogado da família condenada pretende recorrer da decisão. Ele afirma que esse tipo de relação “jamais aconteceu entre as partes”. Ainda cabe recurso da decisão ao Tribunal Superior do Trabalho.
Solange saiu de sua casa, em Curitiba, quando tinha 7 anos de idade para viver com a família em São Paulo. “Ela prometeu para mim escola, boa casa, e que eu ia morar em São Paulo, com boa residência, família e acho que a minha mãe deve ter acreditado, aí me deu. Ela me trouxe aqui em 1987”, relata.
Aos 39 anos, a mulher tem uma história triste pra contar e ela perdeu direito até mesmo ao seu próprio nome. “Ela disse assim para mim: ‘Como eu não lembro seu nome, eu uso o Laquê Karina e não vou esquecer jamais. Seu nome de hoje em diante vai ser Karina'”, conta Solange.
Não foi uma adoção oficial, de papel passado. Solange foi apresentada aos membros da família como um misto de filha e empregada. “Eu me senti muito ‘acoadinha’, parecendo um ratinho perdido ali em um monte de gente. Nesse dia eu não trabalhei não, porque eu estava com medo, nem saí do lugar”.
Na primeira semana na casa, Solange conta que precisou dormir entre o box e o vaso sanitário de um banheiro. Lavou suas roupas no banheiro e a patroa levou para a empregada estender. Segundo ela, não era permitido que a ela tivesse contato com a funcionária que trabalhava lá.
Solange também não teve direito à educação. “Ela nunca permitiu que ninguém ensinasse. Tinha uma inquilina dela lá que trabalhava na prefeitura. Ela falou vou te dar uma cartilha para você aprender a ler e escrever, pois ela colocou a mulher para fora do prédio porque queria se meter na minha educação”.
Entre diversos abusos, ela também nunca recebeu salário e foi com muita dificuldade que conseguiu sair dessa situação. “Eu me sentia como uma escrava”, diz ela.
O Tribunal fixou um valor de R$ 1 milhão de indenização que será pago em 21 anos. A decisão ainda cabe recurso ao Tribunal Superior do Trabalho. “Nós entendemos que os fatos e as provas não podem ser mais reexaminados o que pode ser discutido é em relação ao valor”, comenta o advogado de Solange.
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