Uma história bizarra aconteceu no dia 1º de janeiro na cidade de Marília, no interior de São Paulo. O porteiro Juliano Amaro da Silva Paula, de 44 anos, foi demitido após ter se ausentado da guarita do Edifício Spot em que trabalha para socorrer vítimas de um acidente de trânsito que aconteceu em frente ao local.
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Segundo ele mesmo relatou, era por volta das 23h30 quando ele ouviu um barulho e gritos de crianças na rua. Ao olhar para fora viu um carro capotando e passando sobre outro veículo que estava ali.
“Quando eu ouvi as crianças gritarem, saí de imediato. Eu tenho três filhos então foi uma coisa automática”, contou ele em entrevista ao ‘Uol’.
Juliano é pai de três filhos, dois meninos (um de 5 e outro de 13 anos) e uma menina, de apenas 3 anos. “Eu só conseguia pensar em ajudar aquelas pessoas”, acrescentou o porteiro em entrevista.
O porteiro, que tem curso de socorrista, foi correndo até o local e encontrou intacto o carro em que as crianças estavam. Nenhum passageiro havia ficado ferido.
Depois, ele foi até o carro que capotou e a situação era diferente. Além do carro estar em condições preocupantes, o motorista não estava no volante.
“Ele estava em uma posição muito ruim, sobre o próprio pescoço. Se demorasse o socorro, ele seria prejudicado. Então, como sou socorrista, eu coloquei ele em uma posição melhor para não causar danos a possíveis fraturas na coluna. Ele estava desacordado, sangrando muito e aspirando esse sangue”, contou o porteiro em entrevista.
Como tem conhecimento de como realizar um socorro, Juliano fez algumas manobras para a vítima despertar e uma pessoa que passava pelo local ligou para o SAMU (Serviços de Atendimento Móvel de Urgência).
“Coloquei ele na maca, ele se encaminhou para o hospital e eu subi para o prédio para me lavar. A todo tempo eu olhava a portaria para ver se tinha algum movimento de morador, mas naquela hora não havia ninguém”, diz.
Porteiro acaba demitido
Passado o estresse desse dia, em que o profissional foi primordial para a manutenção da vida do motorista acidentado, Juliano descobriu que havia sido dispensado pela empresa que trabalha, o Grupo IF3.
Eles souberam do que aconteceu e concluíram que o porteiro descumpriu procedimentos internos ao deixar a guarita para socorrer a vítima.
“Eu falei: ‘eu vou embora por ter salvado uma pessoa? Eu fiz um juramento de que se eu não realizar socorro, eu estou cometendo um crime'”, relembra o porteiro demitido.
“Eu passei mal. Fiquei constrangido, mas eles não mudaram de ideia”, contou ele em entrevista.
Depois da situação, que acabou acarretando sua demissão, Juliano não conseguiu mais dormir de preocupação. Afinal, o salário da esposa na prefeitura de Marília não é suficiente para o sustento do casal e dos três filhos.
“Eu tenho mandado currículo, mas a minha área na cidade é muito difícil“, desabafou o profissional.
“Eu sempre trabalhei muito, nunca tive nenhum problema, sempre chegava no horário. Teve alguns moradores que me ligaram para prestar solidariedade. Eu fui ajudar uma pessoa e ajudando essa pessoa eu não prejudiquei o meu trabalho e o meu serviço. Eu achei uma injustiça muito grande“, afirmou Juliano.
Apesar de tudo, o porteiro demitido não se arrepende do que fez. Ele contou que recebeu mensagens de agradecimento da mãe do acidentado. Segundo ela, o filho dirigia sem cinto de segurança e se não fosse o socorro rápido prestado pelo porteiro, ele poderia não ter sobrevivido.
O Grupo IF3 enviou uma nota ao ‘Uol’ em que informou que “reconhece o mérito da atitude de Juliano, mas não isenta que o senhor Juliano descumpra com suas obrigações na portaria e com os procedimentos” da empresa.
Segundo o Grupo IF3, Juliano ficou fora da portaria por mais tempo do que o necessário para socorrer a vítima.
“O senhor Juliano apenas retornou ao seu posto de trabalho às 2h36 da madrugada, ou seja 2h59 após o acidente, sendo que assim o senhor Juliano ultrapassou em 2h21 o tempo necessário para o atendimento ao acidente”, diz comunicado.
Contudo, a empresa finalizou afirmando que a demissão não foi um caso isolado e reclamações sobre a postura do porteiro já haviam sido recebidas pela instituição.
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