in

Sem chance de intervenção militar, caminhoneiros querem renúncia de governo

Parte dos manifestantes foi levada a acreditar que, após sete dias de paralisação, Exército assumiria o País

(Foto: Marcelo Camargo / Agência Brasil)

Ao atender a ligação da vizinha octogenária que queria saber onde encontrar combustível, Ramiro Cruz Jr., de 34 anos, comemorou: “Eu não disse para senhora que eu ia parar o País…ah, no posto Shell, lá você encontra gasolina!”

Ramiro é um dos ativistas pró-intervenção militar que estiveram ao lado dos caminhoneiros e, segundo palavras do próprio, atuaram para “catequizar e dar conhecimento aos motoristas de caminhão”. O que ele chama de catequizar é, principalmente, defender a queda do governo e uma intervenção militar.

Pré-candidato a deputado federal pelo PSL (partido do presidenciável Jair Bolsonaro) e coordenador do movimento Despertar da Consciência Patriótica, Cruz trabalhou por 30 anos com caminhões – primeiro, ajudando na administração da transportadora do pai; depois, como caminhoneiro autônomo. Esse período de forte envolvimento com a classe teria feito com que ele estreitasse laços com os dois lados da operação. Ou seja, patrões e empregados.

Hoje, ele participa de mais de 50 grupos de WhatsApp voltados exclusivamente aos caminhoneiros e suas causas, mas garante que não cumpre ordem de ninguém. Além disso, criou o seu próprio grupo, o UnaTrans (que ainda pretende oficializar e transformar em associação). Por meio desses grupos, ele mantém uma comunicação minuto a minuto com vários caminhoneiros – transmitindo vídeos, textos e áudios que, em sua grande maioria, pregam a continuidade da greve, elogiam o período militar e criticam quase toda a classe política.

Em sua página de Facebook, Cruz compartilha vídeos apoiando os grevistas e escreve textos de forte teor triunfalista: “A vitória está próxima! Caminhoneiros + Povo x Legalidade x Legitimidade = Queda da Bastilha brasileira!!!Não vamos afrouxar, que venha a Força Nacional de Segurança e o escambau a quatro, aqui é facão no toco e não arredaremos pé um só milímetro, pois somos o povo e o povo se uniu…” Ele nega apoio do PSL ou de Bolsonaro.

Veja também:
Relembre a famosa matéria em que Ana Maria Braga foi a uma praia de nudismo

Como Ramiro, outros personagens trabalham nos bastidores para incutir a ideia intervencionista na cabeça dos caminhoneiros. O Estado conversou com um ex-líder da categoria que contou como era assediado constantemente por simpatizantes da intervenção militar. Eles buscam representantes do setor para encampar a ideia de que o melhor para o Brasil é a entrada do Exército no poder. Muitas vezes, a proposta é abrir mão das pautas originais para focar nesse tema.

Nas conversas de WhatsApp, isso pode ser verificado com clareza. Mesmo depois de o governo aceitar os pedidos, os motoristas de caminhão continuavam irredutíveis em finalizar a greve. O argumento é que o “grande objetivo”, que é um Brasil melhor – e não mais o preço do diesel –, não foi alcançado. Durante os nove dias de greve, os caminhoneiros acreditavam na tese de que passados sete dias e seis horas da greve o Exército poderia assumir o poder.

Na manhã de segunda-feira (28), a ficha de que uma intervenção militar não vai ocorrer começou a cair. “Cadê o Exército? O prazo acabou. Vai terminar tudo em pizza outra vez?”, questionava um participante dos grupos de WhatsApp. Decepcionados, eles se voltaram contra o Exército. Nas mensagens, diziam que os militares eram “vendidos” e que “estavam com o governo”.

Isso não significa, porém, que desistiram da batalha. Eles passaram a focar em esforços para fazer o presidente Michel Temer renunciar. Para isso, decidiram atacar a população que não está se engajando nos protestos. “Nós estamos parados, temos família e contas para pagar. Mas queremos o fim da corrupção, queremos um Brasil melhor. Então todos temos de ir para as ruas. Não é justo lutarmos sozinhos”, destacava um caminhoneiro, no WhatsApp.

Em Destaque

Recomendamos para você

Deixe seu comentário

Sem espaço no ‘JN’, Maju Coutinho faz previsão do tempo no Instagram

Sheik posta vídeo tirando gasolina com a boca: ‘tenho que trabalhar’