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Um ano depois, tragédia aérea da Chapecoense ainda segue inexplicável

Nas primeiras horas do dia 29 de novembro de 2016, avião da empresa LaMia sofreu pane seca e 71 pessoas foram mortas

(Foto: Marcio Cunha / Agência Lusa)

No dia 30 de novembro de 2016, o Brasil vivia a expectativa de ver a simpática Chapecoense na decisão da Copa Sul-Americana, feito histórico e inédito para a modesta equipe de Santa Catarina. Nas primeiras horas do dia 29, quando o avião da empresa LaMia com o time de Chapecó (SC) sofreu uma pane seca nos arredores de Medellín, na Colômbia, local da partida, a trajetória de 77 famílias seria transformada.

No total, foram 71 mortes que chocaram o mundo. Astros do esporte divulgaram mensagens de luto. Diversas foram as homenagens e a ajuda ao clube e às famílias das vítimas. Mas as marcas permanecem, sobretudo nas crianças.

No campo, a Chapecoense conseguiu grandes feitos para quem não tinha nem sequer um time para jogar no início da temporada. Sagrou-se campeã catarinense e se garantiu na Série A do Campeonato Brasileiro. Sobreviveram os jogadores Jackson Follmann, Neto e Alan Ruschel; o jornalista Rafael Henzel; a comissária de bordo Ximena Suárez; e o mecânico Erwin Tumiri.

Jackson Follmann é comentarista da FOX Sports e estuda para se tornar dirigente. Neto e Alan Ruschel continuam as suas carreiras, assim como Rafael Henzel. Ximena Suárez trabalha como modelo e recentemente tatuou um avião da LaMia como se ele estivesse chegando ao céu. Erwin Tumiri vive na Bolívia e tem participado de programas de TV no país.

Uma vítima não estava no avião: Celia Castedo. Ela era a funcionária da Administração de Aeroportos e Serviços Auxiliares de Navegação Aérea da Bolívia (Aasana) e detectou problemas no plano de voo, mas foi ignorada. Após o acidente, alegou ter sofrido ameaças de morte e pediu refúgio no Brasil. Vive em Corumbá (MS), mas seu refúgio é provisório, expira em 5 de dezembro e ela teme que não seja renovado. Celia não quer voltar à Bolívia, onde é acusada de homicídio culposo.

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Crianças

A dor e as lembranças do dia 29 de novembro estão vivas. Talvez, ninguém tenha sofrido tanto quanto os filhos das vítimas do acidente, a maioria crianças, que convivem com a saudade e tentam entender o que aconteceu. O jornal O Estado de S.Paulo foi em busca das famílias para saber como os órfãos de pai lidam com a ausência. As mães se sentem impotentes diante do sofrimento dos filhos e tentam encontrar uma forma de amenizar a dor deles.

“Ele fala várias vezes: ‘Mamãe, quero morrer para ver o papai’. Ele pergunta se o pai tem celular para ele falar que está com saudade e quer saber como Jesus o levou. Dói muito, pois eu queria protegê-lo desse sofrimento, do luto, mas não tem como”, contou Bárbara, viúva de Ananias e mãe de Enzo, de seis anos.

Ela lembra que Ananias era muito presente. Desde a tragédia, seu filho passa por uma terapeuta para tentar viver normalmente. “Ele sabe que não vai mais ver o pai, mas não entende muito bem o que aconteceu”. Bárbara deixa Enzo ver algumas notícias do acidente. “De vez em quando passam coisas na TV e eu não mudo de propósito, para ele saber lidar com a saudade e enfrentar a realidade”. Ela vive com o filho em Salvador.

O pequeno Victorino, de 9 anos, filho do repórter da FOX Sports Victorino Chermont, passa pela fase da inconstância. “Tem dia que ele está tranquilo e em outros só chora”, explicou Luciana Chermont, a mãe. Por causa da tragédia, o menino foi reprovado na 3.ª série do Ensino Fundamental, por não conseguir fazer as provas. “Ele ficou muito tempo sem falar com ninguém e não queria mais ter vínculo com as pessoas, por medo de perdê-las. Ele achava que elas iriam morrer também”.

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Luciana o leva para a terapia e precisou mudar os seus hábitos. “O Vito (apelido do filho) ia jogar bola e só chorava, já que futebol faz lembrar o pai. O professor da escolinha sugeriu que ele parasse de fazer as aulas, para não piorar”, contou.

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