O canal do Youtube “Drugslab”, financiado pela emissora pública holandesa BNN, tem dividido opiniões entre especialistas e internautas devido ao modo como aborda o uso de drogas. Cada episódio, já são 18 no total, é dedicado a uma substância. Os apresentadores explicam a origem, como é feita, se tem aplicações medicinais, os efeitos e prejuízos causados por ela e modos seguros de consumo.
Os vídeos são iniciados com um aviso sobre o caráter educativo da proposta e de não intenção de encorajar o uso das substâncias. Em seguida, dois youtubers explicam: “Neste laboratório, nós experimentamos diferentes tipos de drogas. Se você tem curiosidade sobre alguma, conte-nos nos comentários, e quem sabe nós experimentemos para você”.
O cantor Rens Polman, de 25 anos, o estudante universitário Bastiaan Rosman, de 23, e a atriz Nellie Benner, de 30, comandam o canal. A cada semana, um dos integrantes usa uma droga e tem seus batimentos cardíacos e temperatura corporal acompanhados em tempo real. Os youtubers descrevem, nos mínimos detalhes, o que a substância os faz sentir. Ao mesmo tempo, um participante sóbrio dá as explicações científicas e as dicas para que os perigos envolvendo o consumo da droga testada sejam evitados.
“O hormônio ADH vai ser produzido, o que te impede de fazer xixi”, avisa Bastiaan, no vídeo em que sua companheira Nellie prova MDMA.
“Não havia na internet um programa que desse essas informações de forma precisa para os jovens. Não há um jeito melhor de fazer isso do que usá-las em frente à câmera”, diz Jelle Klumpenaar, criador e produtor do Drugslab, à BBC Brasil.
O YouTube respondeu a um pedido de entrevista da BBC Brasil dizendo que “não comenta casos específicos”, mas que, se o Drugslab está no ar, é porque “está de acordo” com suas diretrizes.
Opiniões
Mesmo na Holanda, país famoso por suas políticas tolerantes em relação às drogas, o canal não é unanimidade. Ferry Goossens, líder do programa para álcool e drogas do Trimbos Instituut, referência no país para tratamento e prevenção de doenças mentais e vícios, avalia que o canal pode encorajar o uso de diversas substâncias. “O Drugslab pode ser visto por qualquer um e mostra como usá-las (as substâncias). A maioria das pessoas – e dos jovens – não usa drogas. E quem não consome pode ficar interessado em testar ou quem usa um tipo pode querer experimentar outros”, diz Goossens.
Entrevistado pela BBC Brasil, o psiquiatra Dartiu Xavier, coordenador do Programa de Orientação e Atendimento a Dependentes da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), afirma que o “Drugaslab” tem caráter inovador e desempenha um papel importante. “Um canal assim presta um serviço de utilidade pública. Diversos estudos mostram que a forma como combatemos o uso de drogas desde os anos 1970 não está funcionando”, afirma Xavier. Ele explica que, desde os anos 1990, uma nova estratégia baseada na redução de danos vem ganhando força.
Assista ao vídeo mais recente produzido pelo canal “DrugsLab”:
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